Fernanda Otero*, de Dublin
Julho acabou e o ano também. Depois do mês sete, o ano voa! O “não tá fácil, e (sempre) pode piorar” aterroriza e nunca foi tão real, mas a expectativa do final do ano e a chegada de 2022 é um conforto que pode significar a mudança de rumos que almejamos e parece tão distante do presente.
Enquanto o tempo passa implacável e acelerado, cresce a aflição sobre a retomada dos trabalhos no congresso nacional brasileiro, um house of cards de quinta categoria protagonizado pelos parlamentares e pela(s) pessoa(s) que ocupa(m) o(s) cargo(s) da presidência da república e da câmara. Um é genocida e fascista, o outro, dissimulado e cínico.
Em 2018, se Deus era brasileiro, ele tirou férias e deixou o cargo vago. Parece que tudo de ruim que poderia acontecer com o país, aconteceu. A tragédia não começou em 2018, e sim, em 2013; entretanto, 2018 foi o marco que jamais se apagará das nossas memórias e dos livros de história. A situação se agravou desde então depois da eleição, quando quem ganhou foi o pior candidato na disputa, o demônio encarnado J. Bolsonaro. Ele não era qualificado, ele não era simpático, ele não era competente, ele não sabia nada de democracia, ele não valia um vintém! Mas ele foi o candidato das elites…
A eleição de A. Lira para a presidência da Câmara dos Deputados cumpriu o mesmo roteiro. Ele também não era o candidato menos violento, ele não era o mais honesto, ele não era o mais bem relacionado. Mas ele (Lira), foi o candidato ungido pelo outro, o demônio encarnado J.Bolsonaro.
Essa dupla do atraso agora está muito bem unida para bagunçar o sistema eleitoral. Lira já declarou que vai levar adiante a reforma política no segundo semestre.
O demônio encarnado tem declarado no cercadinho esvaziado e em todas as oportunidades de que dispõe, que a eleição de 2022 sem voto impresso, será uma fraude. Mas, vale dizer mais uma vez, que ele foi eleito desde 1998, com esse sistema. Ué, não tinha problema antes?
Me lembro da minha primeira experiência votando, em 1989. Lembro que eu titubeei por um instante pois eu tive um impulso de rabiscar o papel, mas acabei fazendo a coisa certa. Meu primeiro voto foi para presidente. Em 1994, fui votar pela segunda vez para presidente, e a partir daquela eleição eu não só participei como cabo eleitoral de um candidato, como também atuei como fiscal. Eu também atuei inúmeras vezes como fiscal de eleições proporcionais, mas a eleição majoritária era sempre mais empolgante.
O papel do fiscal era muito diferente quando o voto era no papel. Não dava para tirar os olhos da seção de votação nem um minuto sequer. Havia uma tensão e uma expectativa de que algo acontecesse. Eleição era sinônimo de confusão. O pior ficava reservado para a apuração. Durante a contagem dos votos, a confusão era garantida! No modelo do voto impresso da década de 1980, começo dos anos 1990, as pessoas escreviam o nome de seus candidatos na cédula. Isso dava margem para longas disputas entre os fiscais de candidato e partido, que gritavam para garantir os votos dos seus representados quando o nome escrito na cédula era indecifrável. Ganhar um voto no grito, fazia parte do processo democrático.
Com o advento da urna eletrônica, todo esse frisson se foi. A apuração foi transferida para as sedes dos tribunais eleitorais com seu formalismo frio. Os estádios que eram utilizados para contar os votos não foram mais necessários. Passar uma ou duas noites em claro esperando o resultado da eleição então, é algo que jamais viveríamos novamente.
Em 1996, 57 cidades fizeram os testes para o novo modelo. Em 1998, aconteceu a primeira eleição para presidente utilizando o novo sistema de votação com a urna eletrônica. Me lembro desse dia e da rapidez que foi anunciado o resultado do primeiro turno.
O voto eletrônico completou 25 anos em 2021. No ano em que se comemora esse feito, vem esse capitão descagado querendo voltar com o voto impresso, ainda que não tenha provas sobre a falta de segurança da urna. Foram seis eleições presidenciais desde 1998, em nenhuma delas, houve comprovação de fraude, tudo sempre foi suspeita.
Faço um mea culpa sobre a urna eletrônica. Eu também cheguei a desconfiar da capacidade de um sistema desenvolvido com tecnologia 100% nacional ser tão eficiente e seguro.
Por um bocado de sorte e não sem muito esforço pessoal, tive a oportunidade de ter contato com pessoas que são muito entendidas sobre o processo eleitoral e o funcionamento da urna. Trabalhei em todas as eleições para presidente desde 1994 (e na grande maioria das eleiçõs proporcionais também), em várias cidades do estado de São Paulo, grandes e pequenas. Nunca, jamais presenciei ou soube de qualquer fraude que comprometesse o pleito.
A urna é segura pois não está ligada à rede de computadores, mas é frágil pois está exposta ao acesso de setores terceirizados que prestam serviço ao tribunal eleitoral. O especialista em redes Sergio Amadeu declarou que é possível aplicar um modelo de segurança de impressão do voto, mas que seria inviável para o próximo pleito de 2022 diante da logística envolvida no processo.
O que está colocado para o segundo semestre vai ter efeito em 2022 e nos próximos anos. O que sabemos é que não dá para perder mais uma década sob o comando desses milicianos e genocidas, fazedores de necropolítica.
Tentar ganhar voto no grito, faz parte de um passado que está enterrado e distante do nosso presente. E é assim que queremos ver esses dois à partir de 2023, no passado e distante de nossas vidas.
Mora no exterior? Cadastre-se para votar!
Somos mais de quinhentos mil eleitores no mundo. O voto e a unica forma de garantir que esse genocida deixe o governo. Ele foi eleito com a ajuda de boa parte desses eleitores. Se voce mora no exterior, fique atento ao prazo que se encerra 151 dias antes da eleicao. Cadastre-se e vote!
https://www.tse.jus.br/eleitor/eleitor-no-exterior
*Fernanda Otero é jornalista e membro da FIBRA desde 2016. Apresenta o programa #SalaComum no canal ECDE TV