Amsterdam, 9 de setembro de 2025.
Por Luíza Monteiro, para o site da Fibra
@luiza.monteiro

Iniciou-se em 2 de setembro de 2025 o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros réus por diversos crimes relacionados com a ruptura da democracia brasileira, felizmente, fracassado.
O processo avança e nos deparamos com o nosso julgamento de Nuremberg, só que sem pena de morte.
Ainda que as esquerdas gelem a cerveja para comemorar a prisão, convenhamos que um presidente da República ir a julgamento e com alta probabilidade de ser condenado é uma situação constrangedora.
Como pôde o povo ter escolhido alguém que jura defender o regime democrático, seguir a constituição cidadã de 88 e, na verdade, se depara com alguém que quer ferir o marco constitucional e destruir a nossa jovem democracia? É triste.
Como foi deprimente por demais a prisão de Lula. Sendo que, no caso Lula, os atropelos jurídicos do processo foram revelados enquanto a ordem jurídica é rigorosamente cumprida no processo de Jair.
É triste, mas necessário. Fundamental para nos livrarmos do ranço autoritário. É preciso lavar a alma e rearrumar a nação.
O que o julgamento inaugura na nossa história é a presença de militares de alto nível e extremamente bem considerados pelas FFAA no banco dos réus. Julgá-los como a qualquer outro cidadão já é um avanço, sem deixá-los na corporativa justiça militar. Mas ainda é pouco. A hora seria de mexer com o quê gera militares antiquados, sempre à espreita de dar um golpe.
Há urgência de modificar as escolas militares ainda que sejamos cientes, que não há correlação de forças para entrar de choque nesta empreitada. Mesmo assim faz-se algo fundamental.
Corremos o risco de condenar um punhado de militares enquanto um batalhão está sendo gestado para os mesmos propósitos. Estaremos sempre a enxugar gelo?
O julgamento pode eliminar do jogo político partidário e eleitoral a liderança farsesca máxima – Jair Messias – que não quer abandonar a arena de poder. E o day after?
A Academia Militar das Agulhas Negras, por exemplo gerou Bolsonaro e toda um entourage como o Tenente-Coronel Mauro Cid, aluno mais brilhante de sua geração e, ainda, Augusto Heleno e Braga Neto, estes mais antigos. Estas mentes altamente consideradas pelo estamento militar, têm que ser reavaliadas e que uma nova mentalidade surja destas instituições.
Afinal, as FFAA apesar de pagas pelo povo, com frequência se voltam contra os interesses deste a quem devem defender!
Se não bastasse, a conexão direita brasileira e interesses americanos ficou revelada à sociedade, era de se esperar uma forte reação dos militares às ameaças estrangeiras e atos concretos contra a soberania nacional. Muito pouco se ouviu. E a Academia militar segue sem influência da sociedade civil, sem entender para quê aquilo tudo.
No contexto em que este julgamento se dá e, sobretudo, às alterações no mundo geopolítico atual, com ameaças concretizadas contra o Brasil as FFAA remodeladas torna-se necessidade.
Brasil, chegou a hora de punir golpistas, mas, sobretudo, de reformar as FFAA para consolidar a defesa do país para os brasileiros. Vamos encarar que o Brasil, seu povo e suas riquezas requerem forças armadas em diálogo com o poder eleito, com formação atualizada e imbuída de um nacionalismo sadio sem ranços de corporativismo, americanismo, autoritarismo, mas com inteligência à serviço do povo brasileiro, não de minorias. Pelo menos até chegarmos ao ponto de vivermos um possível pacifismo embalado pelas canções de John Lenon. Utópico? Quem sabe? O futuro dirá! Mas o futuro começa agora.
Luiza Monteiro
Luiza Monteiro é integrante do Coletivo Amsterdam pela Democracia e da FIBRA.
Nota: Os textos, citações e opiniões deste texto podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos e/ou membros independentes da Fibra.