Voto de ‘barrage’ é possível no Brasil?

Por Ermeson Vieira Gondim

Macron e sua esposa Brigitte marchando entre um grupo de jovens sobre o Camps de Mars em direção ao podium em frente à Torre Eiffel onde faria seu discurso da vitória me emocionou, não porque tenha nele a ilusão de uma transformação radical da vida social e política da França, mas porque sua vitória representa a vitória de uma visão de mundo democrática e progressista. 

Brasil e França têm mais semelhanças do que um pode perceber à primeira vista. Tanto a França como o Brasil são repúblicas presidencialistas. Mas apesar de que nos dois países o sistema democrático já deveria estar bem consolidado, há como todos sabemos um retrocesso democrático, tanto em França, como no Brasil. No nosso país temos além disso um retrocesso civilizacional que se plasma na degeneração dos Direitos Humanos, na violência social e política, na alienação generalizada, na corrupção em todos os níveis, nos ataques às instituições, aos partidos e aos cidadãos que lutam por justiça social. 

Nestas eleições de 2022 a sociedade francesa se viu encurralada pela falta de perspectivas políticas. Com a prática desaparição dos socialistas franceses do cenário político a população teve que optar entre a extrema direita, a extrema esquerda e os liberais. Uma escolha très difícile.

No Brasil nós nos encontramos em uma situação um pouco mais clara, mas não por isso menos tensa e tenebrosa. A chamada terceira via que representa o que há de pior dentro do espectro neoliberal do Brasil não tem, felizmente, nenhuma chance, ainda que tentem. A extrema direita de Bolsonaro que já está no poder constitui uma ameaça real à ordem democrática do país. Os ataques são diários e veem em aumento. A única alternativa democrática e social é Lula que já mostrou a que veio e que pode reconduzir o país aos trilhos das democracias do mundo. Mas a questão é: os brasileiros compreendem o conceito de voto de barrage como entendeu a maioria dos franceses? Ou vamos ter que contar somente com nossos votos fieis, os de sempre? Até onde o antipetismo estimulado por Ciro e Bolsonaro vai prejudicar ainda mais o curso da democracia no Brasil? 

Eu não sei. Estou contente que o povo francês tenha barrado o caminho dos fascistas ao poder. Espero sinceramente que saiamos do nosso marasmo, da nossa letargia, pois do contrário o Brasil que conhecemos até hoje, será só história. A elite brasileira é capaz de sangrar e beber o sangue dos seus próprios compatriotas só para se sentir mais rica e poderosa. Há cheiro de podre no ar por isso é preciso arregaçar as mangas e lutar por um Brasil democrático. Na França, os partidos democráticos, contando inclusive com a extrema esquerda de Jean-Luc Mélenchon foram capazes de impor um cordão sanitário aos fascistas, será que no Brasil os ditos partidos democráticos farão o mesmo para barrar a ameaça fascista no nosso país? O único certo é que só podemos contar com nosso esforço para derrotá-la. 

Ermeson Vieira Gondim é cearense de Quixeramobim, co-fundador do comitê Lula Livre em Bruxelas. É Mestre em Comunicação e Educação na Internet pela UNED (Espanha), Mestre em Cinematologia pela Universidade de Amsterdã, Bacharel em Filme e Vídeo pela Universidade do Leste de Londres. Tem organizado cursos de cinema e realizado filmes além de colaborar com a Fibra.


Acompanhe as mídias de Ermeson:

Instagram: @ermeson_vieira_gondim
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCDphyzfI-IQQyzvxJ-hMGSw
@cultura_acentuada

Acesse seu livro (ebook) “Jonas em Guaramiranga” : via @amazonBR

Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.

3 thoughts on “Voto de ‘barrage’ é possível no Brasil?

  1. Lamentavelmente o artigo sobre o voto “barrage” dos franceses està cheio de noções equivocadas sobre as ùltimas eleições,e até mesmo com erros bàsicos sobre a Història e o regime polìtico francês. Por exemplo, logo no primeiro paràgrafo lê-se : “sua vitória representa a vitória de uma visão de mundo democrática e progressista”. Seria preciso ressaltar que essa é a opinião exclusiva do autor do texto que aliàs, não vive na França. Dizer que o Macron foi reeleito por “representar uma visão de mundo democràtica e progressista” chega a dar calafrios em qualquer militante antinéoliberalismo, mas até aì, essa frase pode ser considerada como jà disse, a opinião pessoal do autor. Mas, até onde pode-se aceitar que opiniões pessoais sejam publicadas quando se vê que foram deselvolvidas a partir de falta de conhecimento sobre o assunto ? No segundo paràgrafo o texto afirma “Tanto a França como o Brasil são repúblicas presidencialistas”…Ora, todos sabem que desde 1958 a França adotou o regime semi-presidencialista, o que a diferencia absolutamente do Brasil.
    “Estabelecido na França em 1958, e mais particularmente em 1962 com a eleição do presidente por sufrágio universal, o sistema semipresidencialista é caracterizado por um duplo poder executivo: um presidente (com poderes reais em virtude de sua eleição) e um primeiro-ministro que trabalha em conjunto com o poder…”. entéao, não, amigos, o regime francês e brasileiros não são idênticos, ao menos desde 1958….O autor continua : “apesar de que nos dois países o sistema democrático já deveria estar bem consolidado, há como todos sabemos um retrocesso democrático, tanto em França, como no Brasil” . Vivendo na França hà 30 anos me pergunto : que retrocesso democràtico existe na França que o permite afirmar que a democracia deveria estar consolidada (e por consequência se quer dizer que ela não està) e quem são os “todos” que sabem algo sobre isso ?
    Os erros são tão gritantes que não caberia em um ùnico comentàrio, mas continuo : o autor diz : “Nestas eleições de 2022 a sociedade francesa se viu encurralada pela falta de perspectivas políticas”. Bem, a frase deixa a entender que isso é um fenômeno recente, oras, desde 2002 a extrema-direita chega ao segundo turno das eleições presidencias, em 2002, em 2017 e agora em 2022 ! Também não se pode afirmar que o crescimento da extrema-direita esteja relacionado com uma suposta “desaparição dos socialistas franceses” que não teria deixado opção para a população de esquerda obrigada a escolher entre a extrema-direita, a extrema-esquerda e os liberais…Devemos entender que o autor considera o Jean Luc Mélenchon de extrema-esquerda ? Se sim, baseado em que, essa afirmação ? Me resta perguntar se o autor se informou antes de emitir essa opinião, e se sim, em quais fontes ? Dos candidatos à esquerda do centro (Macron) somente dois são considerados (ao menos pelos franceses) de extrema-esquerda. São eles Nathalie Artaud do partido històrico Força Operària (FO) e o caçula, Philiphe Poutou, do Novo Partido Anticapitalista (NPA). A France Insubmissa (o partido do Mélenchon que não é nem nunca foi de extrema-esquerda) fez o que pôde para unificar a esquerda em torno da candidatura Mélenchon. Eles criaram a chamada “União Popular” com partidos de esquerda, movimentos sociais e inclusive com militantes tanto do PS quanto do PCF que não concordaram com as candidaturas pròprias desses partidos. Hà muitos outros equivocos no artigo, mas fico por aqui e concluo : jà que em nome da liberdade de expressão pode-se dizer o que se quer (mesmo se sem embasamento ?) termino esse comentàrio solicitando aos editores do site uma definição sobre os critèrios de fiabilidade dos artigos de opinião aqui publicados, afinal, a luta pelo resgate da democracia brasileira que defendemos abrange também uma luta constante contra a guerra de (des)informação sejam elas fakenews e/ou opiniões baseada em achismos jà que ambas fomentam, às vezes subliminarmente, idéias néoliberais propagandeadas pela midia dominante (que tb exerce sua influência no controle da opinião pùblica fora do Brasil, diga-se de passagem)…No caso da anàlise sobre a polìtica francesa expressa no texto, a idéia de que Mélenchon represente a extrema-esquerda vem da midia dominante que demoniza a esquerda ao ponto de levar os franceses pela terceira vez à encruzilhada da opção entre a direita ultraliberal e a extrema-direita…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »