O dia que Cristiano Zanin conheceu a FIBRA.

Por Ana Isa v Dijk, para o site da Fibra.

Holanda, 11 de agosto de 2023.

Conheci Cristiano Zanin em janeiro de 2017. Após 9 meses do início do que hoje chamamos de militância internacional brasileira, demos nome a um grupo que não parava de crescer – a FIBRA, e naquele janeiro reunimos pela primeira vez, em Amsterdam (Holanda), mais de 100 pessoas vindas de vários países para nos conhecer pessoalmente e aprofundar, com mais estratégia e apoios, as lutas iniciadas contra o golpe que impichou Dilma da presidência.

O encontro durou 3 dias. Por um lado, a excitação de viver um ativismo que nos dava indignação, e fôlego – para muitos e muitas de nós uma causa que nos agregava parecença brasileira à vida no exterior. Por outro, assumíamos a responsabilidade de traduzir para nossos países de residência, o que acontecia no Brasil. Para além da denúncia do golpe e da crise política comandada por Cunha e Temer, percebemos ser imperioso advogar por Lula. Havia um cerco perigoso cada vez mais afinado em banir da política o alvo mais cobiçado da política brasileira: Lula – sonho de consumo das oligarquias nacionais e internacionais para muito além do golpe contra Dilma. Naquele janeiro vimos pela mídia os advogados Cristiano Zanin e Zuleika Martins alternando vôos em visitas frenéticas pela Europa a fim de dar vez e voz à tese do lawfare em curso. Sabíamos que não bastava ir às ruas aqui no exterior em defesa de Lula era preciso atrelar nomes e reputações reconhecidas no palco internacional para chamar atenção à narrativa das esquerdas que a mídia mainstream internacional não dava.

Aquele primeiro encontro internacional precisava de pesos-pesados para o debate. Dentre os inúmeros contatos tentados, alguém veio com a ideia de convidar o Zanin já que ele estava pela Europa. O que parecia missão impossível (os tais vôos planejados entre Madrid, Barcelona e outras cidades, no mesmo período do nosso encontro) ganhou do acaso a chance que precisávamos: o cancelamento de um dos vôos. E é aí que realmente começa a minha estória….

Zanin topou!

Eu fazia parte da organização do encontro como integrante do Coletivo Amsterdam pela Democracia e fui informada que Zanin havia feito contato e estava muito disposto a destinar sua agenda cancelada por um dia na Espanha (ou adiada? Não lembro mais…) ao Encontro da Fibra! No meio da animação fiquei intrigada com tamanha simpatia e disponibilidade. Naquela época quase só nós sabíamos da existência da Fibra e do poder de nossa voz como grupo social. Zanin sacou bem rápido a importância daquele encontro, com vozes brasileiras espalhadas pelo mundo, reverberando sua tese na defesa de Lula. Percebeu que todos os espaços precisavam ser ocupados e em como isso poderia ser didático no cenário internacional, ainda não afeito à compreensão do lawfare aplicada pela Lava Jato.

A defesa precisava do clamor militante e das ruas; Zanin foi além e nos possibilitou o convite a Mr. Robertson Geoffrey que defendia Lula na ONU (Genebra). Eram os pesos-pesados com destino a Amsterdam! E assim fui ao aeroporto para recepcioná-lo. Ao chegar encontrei a assessora de Mr. Geoffrey, Charlotte, uma inglesa muito simpática que esperava o casal brasileiro e seu chefe, todos chegando da Espanha vindos da mesma missão.

À esquerda, eu aguardando a chegada no aeroporto. À direita, eu, ladeada por Valeska Martins e Crsitiano Zanin e ao seu lado a acessora de Mr. Geoffrey Robertson, Charlotte.

Zanin e Valeska foram para mim uma agradável surpresa. Apesar da intensa maratona de viagens, reuniões e palestras para platéias diversas sobre um tema polêmico (quase um desconhecido no mundo jurídico à época), estavam dispostos a conversar conosco e assim fizeram. A fala de Zanin nos conduziu com exímia paciência e tranquilidade os desafios de sua tarefa e a gravidade do caso. Valeska Martins enquanto isso conversava com a militância, trocava contatos e nos estimulava no ativismo pela defesa de Lula. Ali, naquele sábado inteiro em que se dedicaram a nos conhecer melhor e explicar o contexto que circundava o ex-presidente, percebemos a figura singular, inteligente e equilibrada de Cristiano Zanin, homem elegante e sem exageros, muito simpático e profundamente comprometido, preparado, para o caso que resolvera abraçar. Essa imagem potente do advogado e ser humano que conheci naquele janeiro, ajudaram meus olhos a compreender sua forma de atuar nos anos seguintes ante à crueza e desfaçatez das figuras que encabeçavam a Lava Jato. Nem diante dos momentos mais cruéis com Lula e sob bombardeio da imprensa, vimos o profissional se permitir a uma fala mais alterada; rebateu as canalhices com o mesmo auto-controle, segurança e tranquilidade que conhecemos em Amsterdam.

1o Encontro Internacional da FIBRA. Janeiro/2017.
Foto à direita Mr. Geoffrey Robertson conversa com Valeska Martins e Cristiano Zanin. Foto à esquerda, Mr. Robertson termina sua apresentação sobre o caso Lula em Genebra.

A condução competente de sua tarefa aliada à habilidade política de Lula venceu o jogo político dentro das entranhas da complexidade jurídica tecidas pela Lava-Jato no seio do STF. O jogo jogado e vencido dentro das regras democráticas como queria Lula. A destreza e dignidade da defesa, fez dele presidente mais uma vez. A vitória que trouxe o povo brasileiro ao protagonismo, mais uma vez, na condução do país e de outra história a ser escrita e contada.

Tenho plena certeza de que este relato é apenas uma pequena parte dos inúmeros momentos que se seguiram àquele janeiro de 2017 com relação ao casal Zanin Martins e a militância internacional – a FIBRA, seus coletivos e membros independentes.

O tempo passou… Correndo, na sucessão de fatos, no turbilhão da história recente do Brasil. Vagarosamente na conta implacável de cada dia suprimido da liberdade de Lula, das perdas pessoais de seus queridos frutos diretos ou indiretos da saga lavajatista.

E no corre e vaga dos dias, a suprema corte volta a ser palco de um novo nome e de uma nova chance de recuperar o tamanho maiúsculo que precisa ter – esfacelado nos tempos do “com o Supremo e com tudo!”.

A chegada de Zanin ao STF é legítima. É bem-vinda. É prerrogativa do Presidente da República, portanto é direito histórico de Lula fazer o que acha justo, pertinente, estratégico e necessário para que o jogo político, quando jogado de toga, esteja mais equilibrado e balizado pelos preceitos da democracia. Parabéns, seja bem-vindo Ministro! Nada mais apropriado para laurear sua carreira profissional, ainda jovem e já cheia de vitórias do lado certo da história!!!

Feito o registro de como a FIBRA e Zanin se conheceram, saúdo a chegada do novo ministro com a confiança de que há de defender a Constituição Federal de frente para o povo brasileiro, historicamente necessitado, excluído, racializado e injustiçado; até porque todos sabemos o quanto custa lutar por Justiça quando o mesmo tribunal permite que haja jogo quando o juiz é ladrão! Lawfare nunca mais!!!

Ana Isa v Dijk
Integrante do Coletivo Amsterdam pela Democracia e da FIBRA.


Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pela autora, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.

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