Contra O Inimigo do Povo.
Barcelona, 10 de dezembro de 2025.
@1flaviocarvalho. Sociólogo.

Na semana passada, enquanto comemorava a prisão do fascista chefe, escrevi um texto que tratava da minha desconfiança sobre a nossa velha mania de baixar a guarda.
“É preciso estar atento e forte”, cantavam os Doces Bárbaros. No Brasil, mais ainda.
Dizia o meu texto anterior…
“Prender o ladrão não é nada quando todo o seu bando tem a chave da tua própria casa. A Quadrilha, do tal bandido, é como uma máfia que opera em nível mundial (chamada Fascismo). Essa máfia aprendeu, com o tempo, a mudar o comando. Exterminando-o, ao líder, quando ele passa a dar mais problemas do que lucros. Comemorar é bom, mas… Festejar vitórias, não deveria jamais significar que baixemos a guarda e que nos relaxemos, infelizmente. Não pode ser que somente nos dediquemos a comemorar a batalha vencida. Pois a guerra continua.”
Eu me acho muito chato ao não conseguir me impressionar com a desgraça política no nosso país. Já nem consigo me angustiar tanto, ao perceber que a Câmara dos Deputados do Brasil continua sendo A (mesma velha) Câmara dos Deputados do Brasil.
O problema? É que piorou. O que esperar desse Congresso Nacional fascista? Basta já de suavizar chamando-os de Extrema Direita!
Será por isso que já não me afeta tanto a brutalidade mais recente dos políticos fascistas em Brasília? Pois que isso não sirva, para mim mesmo, como um mero “eu já sabia”. É preciso lutar mais. Não é hora de lutar com todas as nossas forças contra esse novo golpe. Não. Nem é somente isso. O atual momento político brasileiro exige muito mais de mim. De nós!
É hora de considerar a teoria do golpe permanente: tal como os cubanos revolucionários seguem usando, faz 60 anos, o conceito de Revolução Permanente, sem vacilos; não baixar a guarda jamais (muito embora Sem Perder a Ternura; e, no Brasil, abrindo cervejas para comemorar que Bolsonaro segue preso).
O meu texto, aquele, se preocupava (permanentemente) sobre o que o aristocrático e oligárquico Poder Judiciário brasileiro está passando a representar para o país: uma perigosa, amortecedora e cômoda ilusão.
Por mais que eu me esforçasse jamais conseguiria chegar a ser um admirador (mesmo com todos os seus méritos) de um tal Super Ministro do STF (Alexandre de Moraes, carinhosamente apelidado de Xandão). Pois, aos poucos, as supremas cortes brasileiras já estão fazendo o que sempre fizeram: uma maioria de posicionamentos jurídicos contrários aos nossos direitos. Mesmo prendendo Bolsonaro, nada me garante que o STF não seguirá aprovando pautas catastróficas para a imensa maioria do povo excluído e marginalizado do nosso país.
Uma coisa não tira a outra. É preciso estar atento e forte.
Por exemplo…
Assisto a grande mídia questionar os absurdos super salários. Enquanto isso, não fala nada sobre determinadas categorias profissionais da administração pública (não me refiro a juízes nem a parlamentares, e sim a outros ministérios, do nosso próprio governo, como o MRE) sendo presenteadas pelo atual governo com um novo aumento salarial (maior que o dos professores em greve) e com outro novo aumento em cima dos chamados penduricalhos, mordomias e regalias.
Assisti um parlamentar da nossa esquerda votar contra o seu próprio partido por tentar uma tal jogada de mestre, cheio de “boa vontade”: negociar com os fascistas liderados pelo presidente da câmara dos deputados, o inimigo do povo, Hugo Motta. Assisti recentemente aquele mesmo parlamentar ganhar um novo importante cargo (a Secretaria Executiva que coordenará a campanha do PT em 2026), sem antes prestar contas pela inconsequência do seu desastroso gesto.
Assisto a esquerda brasileira falar cotidianamente em Trabalho de Base, sem fazê-lo efetivamente.
Assisto a campanha eleitoral pra Presidente, para “salvar a pátria”, novamente. Mesmo elencando 43 (inúmeros…) motivos para discordar de ações do nosso governo, não sou besta de não apostar na renovação do nosso Presidente da República e derrotar qualquer candidato do fascismo brasileiro. Não nos enganemos jamais em relação a isso. Estou falando de seguir apoiando o governo Lula e a sua reeleição, pra falar bem claro. A crítica construtiva é a mais saudável. A destrutiva é outra coisa.
Insisto nisso. Uma coisa não tira a outra. Irei pras ruas protestar contra o novo golpe político em Brasília (sim, agora concentrado no ícone do bravíssimo deputado Glauber Braga).
Política, na atual sociedade, tem um nome antigo e que remete ao que estou tentando resumir nesse breve artigo: é luta, sim; e não conciliação de classe. O capitalismo tem essência. A sua é essa.
A sua razão histórica de ser é a de lutar contra a nossa hegemonia, da maioria. Com o claro objetivo de exterminar tudo que esteja no caminho oposto ao seu, do lucro, da barbárie.
Porque a nossa via teria que ser diferente? Porque conciliar com quem quer nos destruir? O que é que você estava pensando? O que mais esperava desse Congresso Nacional?
É guerra, companheiros. Infelizmente. Nem é somente “mais uma importante batalha”. Mas, então, porque nos iludimos tanto, na maioria das vezes? Será porque sempre sofre gente em pior situação do que a gente? É por isso que deixamos a luta de lado, muitas vezes; e ainda pedimos mais paciência para quem já está com a corda no pescoço?
Não alimentar falsas expectativas diante da análise (hipócrita) da conjuntura política contemporânea. Esse é o verdadeiro “Sem medo de ser feliz”.
Ai, o futebol… A melhor defesa? Ao ataque! Ilusão é uma coisa. Esperança é oooooutra. Só que, neste caso, uma coisa pode, sim, tirar a outra.
Eu, da minha parte, amo Esperançar.
Viva Conceição Evaristo! Viva Paulo Freire!
Aquele abraço.
Nota: Os textos, citações e opiniões deste texto podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.