Por Namir Martins, para o site da FIBRA.
Frankfurt, 28 de janeiro de 2024.
“Antes tarde do que nunca”.
(Ditado popular)
O que temos vivenciado nos últimos dias na Alemanha parece ser o despertar para uma realidade que sempre existiu mas, que ninguém queria na verdade, aceitar. A xenofobia, a discriminação, a humilhação por que passa um estrangeiro na sociedade alemã é muito grande. Mesmo aqueles que, certamente em proporção menor aos chamados refugiados, moram há muitos anos no país, dominam a língua, pagam impostos e possuem a nacionalidade alemã. Estes precisam se impor para não sofrer discriminações constantes impostas no local de trabalho, no supermercado, no restaurante ou na fila do metrô.
Por que somente agora o povo alemão foi às ruas para dizer não ao extremismo de direita e ao partido Alternative für Deutschland (AfD)?
As primeiras demonstrações públicas contra o governo alemão, contra a imigração e a chamada islamização da nação começaram a ser organizadas em 2014, por um movimento conhecido como PEGIDA – Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente. Bom lembrar que até hoje, a população do lado leste da Alemanha se sente inferiorizada em relação a parte Ocidental. Ali nasceu o PEGIDA e o NSU – Nacional Socialist Underground, um grupo de neonazistas organizado desde 1998, especialista em matar estrageiros e que ficou impune por muitos anos, porque a justiça alemã fez “vista grossa”.
O que se vê na atualidade é o crescimento assombroso da AfD – Alternativa para a Alemanha, um partido de extrema direita, que já conseguiu emplacar cadeiras no parlamento. Partido que atualmente atinge dois digitos nas pesquisas e se solidificou em muitas cidades alemãs. A preocupação cresceu e isso porque em breve haverá eleições em Estados alemães – um dos motivos de levar o povo para rua.
Outro fator que proporcionou o crescimento dos extremistas de direita foi o descontentamento com o atual governo alemão. O chanceler Olaf Scholz se tornou um dos governos mais impopulares dos últimos tempos.
A guerra na Ucrânia, que para nós residentes na Alemanha foi um verdadeiro tiro na testa, os problemas sociais como moradia e emprego que nos fazem sentir menosprezados pelo governo, a inflação e a recessão, tudo isso fizeram com que a AfD ganhasse votos daqueles que pregam a “Alemanha para os alemães!” e que estão se tornando muitos.
Finalmente um fato ocorrido em 2023 e que somente agora atingiu as manchetes dos jornais como uma verdadeira bomba: neste ano de 2023, políticos deste partido idealizaram com os neonazistas um plano de deportação em massa de imigrantes. A idéia era criar um Estado no norte da África que abrigaria imigrantes e não assimilados na sociedade. Como semelhante era a idéia de Hitler, em enviar os judeus para Madagascar. Esta informação se tornou pública agora, na quarta-feira dia 10, quando o jornal regional Correctiv revelou o plano dos extremistas de direita. Isso bastou, para que manifestações explodissem por todo o país.
Além dos membros da AfD, dois integrantes da facção de extrema direita Werteunion da CDU (Partido de Angela Merkel) também estavam presentes na reunião mencionada pelo Correctiv. O líder da Werteunion, Hans-Georg Maassen, já anunciou que o grupo decidiu se separar da CDU. O grupo afirma ter cerca de 4 mil membros, muitos dos quais eram originalmente filiados à CDU ou à CSU, o partido irmão bávaro da CDU. A notícia da reunião causou ondas de choque em toda a Alemanha, em um momento em que a AfD está crescendo nas pesquisas de opinião, apenas meses antes de três importantes eleições regionais no leste do país, onde seu apoio é mais forte.
Essas notícias causaram imensa comoção na população e apartir daí, protestos em massa começaram a ser organizados. A participação popular tem sido gigante! Crianças, jovens, homens, mulheres, aposentados e trabalhadores tomaram conta das ruas das principais cidades da Alemanha.
A pressão popular valeu a pena! A Justiça da Alemanha está começando a colocar a AfD contra a parede. Por isso, se faz necessário que as demonstrações contra o extremismo de direita e o neonazismo continuem.
A palavra de ordem ouvida nas manifestações: “Todos juntos contra o Fascismo” tem de continuar ecoando nos 4 cantos do país.
Particularmente acredito que regalias e privilégios de partidos nazifascistas tem de ser cortados. Por lei, todas as siglas partidárias alemãs que atingem um percentual mínimo de votos nas eleições (5% dos votos) têm direito ao benefício.
As demonstrações estão ocorrendo em todo o país e não há sinais de que vão parar. Vamos prá rua!
Nazismo nunca mais!
N. Martins
Namir Martins é membra da Fibra e do Coletivo Democracia Resiste! (antigo Desmascarando o Bolsonaro já!), na Alemanha.
Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pela autora, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.