Manifesto ao Comitê Norueguês do Prêmio Nobel, por premiar personalidade que combate a paz e se coloca a serviço de soluções armadas e colonialistas.

Nós, mulheres e homens, assim como organizações de diferentes regiões do planeta, defensoras de valores humanistas, feministas, democráticos, pela justiça social e pela paz mundial, repudiamos veementemente o Prêmio Nobel da Paz dado pelo Comitê Norueguês do Nobel à venezuelana María Corina Machado. A premiada não nos representa nem aos verdadeiros incansáveis ativistas pela paz. Ao revés, as palavras e atos da sra, Machado clamam pela intervenção armada de poderes estrangeiros em seu país. Dado o cenário de forças e equipamentos militares dos EUA mobilizados nas proximidades da Venezuela e apoiados pela laureada, alertamos que o Comitê colocou o Prêmio Nobel da Paz a serviço da guerra e não da paz.
Segundo o testamento do sueco Alfred Bernhard Nobel o prêmio Nobel da Paz é “para a pessoa que tenha feito o maior ou o melhor trabalho pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela manutenção e promoção de congressos de paz.”
Este prêmio é importante para pessoas ou instituições que lutam, que são perseguidas, oprimidas, ou ameaçadas, assim como para aqueles que atuam com palavras e/ou ações para uma convivência mais justa, fraterna e solidária. Com erros e acertos o fato é que a instituição tem um enorme peso. É, portanto, uma grande dor ver o aviltamento deste relevante prêmio, que tanto pode colaborar a um mundo melhor.
Declaramos e pedimos que se compartilhe nossa enorme decepção.
O Prêmio da Paz e a premiação de 2025
Ter uma mulher premiada para o Nobel deveria ser razão de orgulho, ante o massivo número de premiações masculinas, ainda mais uma mulher latino-americana, região onde encontramos personalidades inspiradoras. Afinal, mulheres do mundo inteiro lutam todos os dias para sobreviver com dignidade, assim como buscam criar suas famílias, mesmo submetidas a longas jornadas de trabalho.
Muitas vão além. Despendem horas do seu cotidiano, do seu tempo de vida para atuar por causas nobres, visando atender comunidades e situações complexas e de vulnerabilidade. Estas mulheres merecem visibilidade e apoio. Prêmios as fortificam para seguir atuando apesar dos riscos e das dificuldades.
Na América Latina, de onde vem a premiada, mulheres sabem muito bem o que são ditaduras! Muitos regimes autoritários usaram a violência como forma de dominação do poder do Estado nesta região. Graças a muitas destas heroínas vivemos um momento histórico em que o uso de tortura, morte e desaparecimento cometidos pelo Estado estão em declínio.
São exemplos mulheres como Eunice Paiva, há pouco retratada no filme “Ainda Estou Aqui” (vencedor do Oscar 2025), que viram seus maridos arrancados do lar e seguiram lutando ou como Estela de Carlotto, das avós da Praça de Maio, que até hoje buscam netos sequestrados pela ditadura cívico-militar da Argentina. São as camponesas, indígenas, negras, brancas, mestiças, mulatas, vítimas ou familiares de vítimas que lutaram pelo fim do poder de Estado em definir vida e morte. São mulheres que não se aninham em governos que querem interferir, boicotar e invadir suas nações. Não pedem por golpes, nem intencionam vender patrimônio do seu povo em troca de benefícios nebulosos. E jamais pedem por invasores! Estes exemplos de atuação se colocam no campo oposto ao que simboliza Corina Machado.
Origem e ativismo por negócios e não por diálogo e paz
Filha de família abastada há gerações na Venezuela, a sra. Machado sempre esteve no topo do ranking social do seu país, estudou em escola de elite em Caracas e nos Estados Unidos. Sempre teve servidores à sua volta e um bom apoio em dólares, inclusive vindos dos EUA (através de ONGs como SÚMATE).
Com familiaridade no mundo empresarial, seja por casamento, seja por conviver com sua classe social, a sra. Machado busca o retorno das empresas que foram estatizadas pelos governos chavistas aos antigos proprietários. Incluindo-se as empresas de sua família, Machado coloca os interesses pessoais como objetivo do seu ativismo.
As intenções da premiada são as melhores para os grupos que dominavam a Venezuela e que pouco se importaram de fazer de seu país exemplo mundial de concentração de renda em que poucas pessoas dispunham de riquezas e muitas viviam em condições de miserabilidade à volta. Trata-se de uma incansável defensora de privilégios de classe. Não de fraternidade e paz.
Imposição e sanções em vez de diálogo e solidariedade ao seu próprio povo
Independentemente do que se pense do governo da Venezuela, fato é que encontramos imprensa livre e opositores tanto nos parlamentos quanto ocupando governos regionais. No entanto, a sra. Machado não busca diálogo com estes outros opositores. Considera que são submetidos ao presidente em exercício de seu país. Não é uma figura nem unificadora nem respeitosa de opiniões divergentes, vê a sua opção como a única a ser considerada e sua atitude é ser oposição de confronto ao invés de oposição de argumentos, diálogo, negociação e busca de melhores condições para seu povo.
A respeito das diversas sanções contra a sua nação, promovidas pelos EUA, Reino Unido e União Europeia que provocam fome, falta de medicamentos e insumos industriais, causando mortes e doenças, Machado nunca teve uma iniciativa de amenizar esta situação, mesmo durante a pandemia. Ao contrário, tem diversos vídeos gravados e entrevistas em que expressa querer mais sanções e ser esta a melhor via para se derrubar o governo do país, inclusive com uso de força militar internacional.
Pedidos de paz? Não! De intervenção militar ou ações de boicote
Esta talvez seja a mais contundente razão dos pacifistas se colocarem contrários a esta premiação vendo nele uma sombria consequência.
Em 2018 Machado publicou carta a Netanyahu pedindo para derrocar o presente governo da Venezuela e invadi-lo, recentemente, em 1 de outubro de 2025 expressou ao Financial Times apoiar que os EUA derrubem o governo do seu país.
Considerando que em 2 de setembro deste ano de 2025, os Estados Unidos bombardearam embarcações no mar Caribe, frente à costa da Venezuela em águas internacionais, causando a morte de pessoas, alegando ser traficantes sem apresentar qualquer indício consistente, isso cria clima de tensão e possível escalada armamentista de ambos lados. Todo o contrário do predicado por Albert Nobel.
Sra Machado compactua com a invasão armada de seu país
Com a falsa narrativa de haver conexão de carteis de drogas e o governo de seu país sem indicar qualquer indício concreto que não sejam palavras ao ar, a sra. Machado busca atrair a política antidrogas estadunidense cujos efeitos nunca se comprovaram, oferecendo sua pátria a ataques armados.
Ao ser laureada com o Nobel da Paz, Machado legitima o posicionamento estadunidense atual em relação à Venezuela e a ações beligerantes no Caribe: navios de guerra e um submarino de propulsão nuclear e mais de 4.500 soldados dos EUA estão na região. Ora, a Venezuela tem fronteiras com vários países da América Latina, fazemos nossas as palavras do mandatário colombiano Gustavo Petro: “liberação é que se retirem as forças militares estrangeiras que não só ameaçan a Venezuela, como a todo o Caribe, incluido Colombia” ou “eleições sob bloqueo, mísseis e dinheiros não são livres” Incluímos também o risco que a América do Sul seja atingida pelo ânimo belicoso da sra. Machado.
Estas são apenas algumas das razões do nosso repúdio a este Prêmio indevidamente dado a quem trabalha contra a paz, contra seu próprio povo numa perspectiva colonialista e promove situações de alto risco a conflagração de uma guerra generalizada na América do Sul e no Caribe.
Assinaturas:
FIBRA – Frente Internacional Brasileira Contra o Golpe e pela Democracia
Amsterdam pela Democracia no Brasil
Defend Democracy in Brazil UK
Grupo Marielle Vive
Coletivo AFROBRAS
BRASILEIRAS E BRASILEIROS PELA DEMOCRACIA
Collectif Alerte France Brésil
Instituto Casa Ilharga
PRIVATIZAR FAZ MAL AO BRASIL REAGE BRASILEIRO
Comitê Internacional Lula Genebra
Ideraldo Luiz Beltrame
Angelo Colarullo Filho
Juzemildo Albino da Silva
Elenice Mouro Varanda
Luiz Mario N Dias
Rebeca Roseli Lang
Cristina Delgado
Dalila Ribeiro Sousa Brandão
Maisa Aparecida Fernandes
Maria Adélia Bevilacqua da Matta Mielli
Reyna Destro Nogueira
Paulo Isáiron da Silva Oliveira
Ricardo da Gama Rosa Costa
Angela Carvalho de Siqueira
Vania Lopes Diniz
Marli Almeida
Ligia Bernardo Machado
Valdir Lopes
Leila Moreira Durães
Marcelo Abreu
Veronique Ballot
Lindinalva Laurindo da Silva
Maria de Fátima Souza Cavalcante
Lia Lucas
Bernardo Furrer
Antonio Corrêa de Lacerda
Francisco Carlos de Oliveira
Beatriz Cintra Labaki
Dilcirley de carvalho Alves
Karla Sant’Anna de Moura Coutinho
Cláudia Lukianchuki
Simone Da Silva
Roger Troyjo
Marluce Perdigão
Ermeson Vieira
Elzario Pereira da Silva Júnior
Heike Weege
Virginie Boutaud
José Lauro Sampaio Azevedo
Dalva Nicolucci
Wellington Leonardo da Silva
Luciano Zanetti
Sonia Valeria de Deus
Dênis Gottardi Ferreira
Nagib Abdala Filho
Verli Luiz Esteves
Helio Fernando Muylaert da Silva Lima
Maria Auxiliadora Favacho de Freitas
Adilea Rodrigues da Silva
Antonia Maria Nakayama
Raphael Jannuzzi Peçanha
Cecilia Figueira
Ediogenes Aragao Santos
Valdir Menezes Soares da Cruz
Rosilea Maria Roldi Wille
Patrícia de Almeida Ramos
Claudia Maria Costa Alves de Oliveira
Ana Maria Carvalho Rumbelsperger
Maria Inês Souza Bravo
Ilza Figueiredo de Oliveira
Ester F de Oliveira
Carla Maria Rodrigues Pereira
Carla Figueiredo de Oliveira
Ana Cristina Jeunon
André Laino
Jorge Carvalho Pereira da Silva
Sybille Richter
Maria Beatriz Pimentel dos Santos Silva
José Mauricio Oropeza García
Natalia Quintero
Roberta dos Santos Nunes
Claudia Maria Costa Alves de Oliveira
Célia Alldridge
Gloria Oliveira
Lier Pires Ferreira
Alda Passos
Da cruz Edivaldo
Marcella Camerano
Leticia Coutinho
Maria Luiza Franco Busse
Denise da Veiga Alves
Márcia Nunes Farias de Souza
Fernanda de Oliveira
Liliana Ishihata
Delmina Machado
Denise Maria de Mello Marsili
Sonia Maria Manso Vieira
Tânia Gerbi Veiga
Rejane Maria Stuntebeck
Magaly Ezequiel
Berthoud Denis
Luiz Antonio da Silva
Marta Valéria de Andrade Cunha Sponton
- Excerpt from the Will of Alfred Nobel (em inglês). Fundação Nobel. Consultado em 6 de outubro de 2011. Arquivado do original em 30 de maio de 2013.
- Ainda que detectamos haver violações por poderes setoriais de Estado em algumas situações, assim como em áreas da América Central, a presença das mulheres contra estas práticas se faz sentir.
- A origem de classe não determina ideais, temos o exemplo da falecida Princesa Diana, nobre, rica e influente, tendo se dedicado à eliminação de minas terrestres antipessoais.
- Em 2003 o NED- National Endowment for Democracy (com estreitas conexões com a CIA visando estabelecer regimes favoráveis à Casa Branca, como revelado pelo jornal The Washington Post) começou a financiar a organização SÚMATE, alegando ser uma entidade da sociedade civil organizada independente na Venezuela, quando na verdade, era uma ONG custeada pelos EUA para derrubar Chaves e cuja diretora era nada menos que… Corina Machado.
- A empresa Sidetur depois de uma greve de trabalhadores por saúde e condições de segurança que durou meses foi estatizada por Chaves. In Reuters, November 1, 2010.
- A elite venezuelana, uma das mais ricas da América Latina, orgulhava-se de ser a maior consumidora de uísque no mundo, somando-se ter férias em Miami em hotéis de luxo. Um PIB alto pelo petróleo com um baixíssimo nível de vida da maioria da população era exemplo clássico nos Manuais de Estudos de Economia Política.
- além de criar um doentio e equivocado conceito de comunismo, por demais abrangente, englobando a tudo que diverge de seu ponto de vista.
- Os EUA enviaram 8 embarcações, sendo 3 destroyers, 2 barcos de transporte de anfíbios, q cruzador de mísseis guiados, 1 anfíbio de assalto e 1 submarino nuclear. OS EUA até o momento mataram 27 pessoas, destruíram 8 embarcações e empregam 10.000 militares mobilizados. “Venezuela inicia exercícios militares em ilha do Caribe em meio a tensões com os EUA”, in G1, 17/09/2025 16h15. Atualizado há um mês.
- Três territoriais: Brasil, Guiana e Colômbia e outros com fronteiras aquáticas, pelo Mar do Caribe e Oceano Atlântico, com limites definidos inclusive com os Estados Unidos – através de Puerto Rico e das Ilhas Virgens norte-americanas, assim como com membros da OTAN como o Reino dos Países Baixos (Aruba, Curaçao, Bonaire, Saba e San Eustaquio), a França (Martinica e Guadalupe.
- El Tiempo 13.10.2025 – 11:38 de Colômbia.