@1flaviocarvalho.
19.06.2021
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora” (Gil).
As primeiras imagens chegaram dos Estados Unidos, diante da emblemática Embaixada em Washington. Logo chegou a foto de uma faixa imensa de #forabolsonaro diante da entrada de uma igreja com aspectos que lembravam o barroco, em Coimbra.
Até que começamos a não dar conta de tanta imagem, tanta foto, tanto vídeo, tanta selfie. E não te falo das transmissões diretas, pelo Feici, pelo Insta Live, e até mesmo pelo Tic-Toc.
Logo, começou a chover imagens de #foragenocida, dos quatro cantos do mundo.
Na Europa, de onde menos se espera, um grupo de brasileiros, duas ou três famílias, anunciam que não ficarão de fora da onda mundial de protestos. Faixas e cartazes improvisados ocupam as redes sociais antifascistas. Detalhe: em diversos idiomas. Não será por falta de #forabolsonaro traduzido até para o árabe, que os brasileiros do Líbano poderão dizer que não sabiam – porque a revista Veja queria nos esconder. De Atenas, foto linda: #antigenocida.
Como aconteceu na manifestação anterior, o jornalzinho pequeno da pequena cidade da Catalunha deu-nos a notinha que a gente merece, pra tratar ela numa postagem bem bonita. O grande jornal de São Paulo não publica? Faz mal não. A gente tá aqui, firme e forte pra destacar o jornalzinho catalão como se fosse o New York Times.
Mais um sábado que o desgraçado fascista, aquele, terá problemas para dormir.
Soma-se a isso, nosso povo, no Brasil, jogando toda a sua criatividade ao preparar cartazes. Cartolina, indignação, criativa e lápis colorido. ForaBozonaro pintado na rua, em Estocolmo.
O spray de pimenta na cara da brava vereadora do Recife hoje virou alvo em outras partes do corpo dos fascistas, covardes, medrosos. Queriam verde-amarelo? Pois aqui estamos: nem precisou pedir pro nosso povo vir vestido de vermelho. A tal cor predominou.
O Coletivo de advogados brasileiros em Recife realizou uma live que nunca imaginariam que serviria para orientar, por exemplo, a militância brasileira nos Estados Unidos. Mundo véio, sem porteiras.
Em Palma de Mallorca, a surpresa desagradável (marcaram outro ato pro mesmo lugar, ao mesmo tempo, pois protesto não falta na Espanha) virou alegria. Da noite pro dia, “nossa galera”, o povo da ALMA, Associação Latino-Americana em Mallorca, não perdeu tempo: definiu-se outro ponto de concentração e as paradisíacas Ilhas Baleares voltaram a fazer história, do jeito que a gente sabe fazer.
Marx21, com presença de vários brasileiros antibolsonaristas, em Barcelona, perguntava pelo Facebook: “queremos instalar uma mesinha com nossas publicações para prestigiar o ato Fora Bolsonaro”. As combativas mulheres colombianas, em assembleia, decidiram juntar seus cantos indígenas com os nossos. O movimento antirracista, UCFR, nos tratou de recordar: este domingo, 20 de junho, é o Dia Mundial do Refugiado. A luta antifascista ou é antirracista (e feminista) ou não é.
Em poucas horas, iniciaremos a live sobre a CPI, Vozes de Fibra. Aproveitando os protestos deste sábado, mais divulgado do que nunca. Estamos com o olho lá, mas também aqui.
Em Dublin, uma mãe vestida de vermelho, no feicibuqui perguntava para qual das manifestações se recomendava levar seus três filhos. Havia mais de uma.
Na Espanha, por exemplo, novamente, a construção de um manifesto unitário, lido quase no mesmo instante, em três importantes e distintas cidades, dignifica a unidade: frente ampla não é somente coisa “dos políticos”. Frente ampla é a rua.
Um bate-boca de redes sociais quase desgasta outra importante cidade europeia: qual a prioridade estratégica? O Fora Bolsonaro – que não é somente isso, mas representa muito – ou a campanha eleitoral de um determinado partido, de um determinado candidato, ex-preso político (como é que você ainda não sabe qual?), pras eleições presidenciais de 2022. Prevaleceu, felizmente, como sempre, o bom-senso: não há incompatibilidade, quando se prioriza o diálogo, a escuta ativa e a boa vontade. Como se hoje fosse, ao mesmo tempo, o primeiro ano da campanha eleitoral eterna. Aquela, de 2022. Campanha eleitoral boa é aquela que se ganha antes mesmo dela começar. Até mesmo por nem querer esperar pra chegar lá.
Nunca esqueçamos que o atual despresidente do Brasil falou (ele mesmo!) que a eleição que o elegeu foi fraudulenta. Ameaçou apresentar as provas. E calou-se, claro, depois de dar o golpe e “ganhar”. Nunca esqueçamos que ele não se esquece do seu dono, o dono do cachorro, Donald Trump. “Se eu ganhar ganhei; se eu não ganhar, o novo golpe já está preparado, meus milicianos todos armados, não foi por falta de aviso”.
Política é mais que partido. Política é vida. Política é rua. E partido político que se preza, preza a boa-vontade das ruas, em perfeita compatibilidade com a política institucional.
A Fibra, Frente Internacional Brasileira contra o golpe, pela democracia, surgiu há 5 anos, do sonho de umas mulheres indignadas, cansadas de tanto golpe político. Cresceu como flor de primavera ao sol, bem regada.
Talvez jamais tenha imaginado que se transformaria num sentimento coletivo; num quase-verão do hemisfério norte do planeta. Hemisfério Norte, eu disse?
Pois se corrija. Pois sempre é tempo de corrigir. As companheiras da Argentina, quando todos os cards, esses cartões virtuais modernos, já estavam prontos e circulando em todas as redes sociais, nossa companheira, lá na Holanda, foi dormir um pouquinho mais tarde do que já costuma. Voluntária, evidentemente. Incluída Buenos Aires, ela a companheira, dormiu com aquele gostinho bom de que o mundo é maior e mais perto do que a gente mesmo pensa.
Bora derrubar governo ilegítimo? Esse 19 de junho marcou um antes e um depois na política brasileira. Se depender da Fibra, o depois já é agora. Fora!
Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e é da Fibra, em Barcelona.