Por Namir Martins, para o site da Fibra.
Frankfurt, 19 de março de 2022.
Aprendemos na escola sobre a segunda guerra mundial e o nazismo. Como este assunto sempre despertou minha atenção, pesquisei sobre o tema para além do currículo escolar. Costumava me perguntar: “Como tudo começou, como isso pode acontecer?”, e procurei expandir meus conhecimentos. Morando na Alemanha, o acesso à história se abriu diante dos meus olhos.
Uma reportagem do jornal “O Globo” mostra que antes de Bolsonaro assumir o poder, as denúncias sobre atos nazistas variavam entre cinco e vinte casos por ano. Entretanto, após a posse de Bolsonaro, os crimes de apologia ao nazismo cresceram assustadoramente, atingindo cento e dez casos por ano, ou seja, a cada três dias alguém é vítima desse tipo de crime. A polícia federal espera um crescimento ainda maior daqui para frente.
Hoje, volto minha atenção para o Brasil, lugar onde nasci e vivi minha juventude. Percebo que desde a ascensão da extrema direita ao governo, uma verdadeira onda neonazista tem viralizado no país. Grupos radicais ganharam força com a eleição de Jair Bolsonaro e surgem como cogumelos, disseminando conteúdos com teor nazifascista e agredindo quem discorda das suas ações. Eles existem em todo o Brasil, mas se concentram mais na região sul do país.
Uma especialista no assunto é a Professora e Antropóloga Adriana Dias. Ela afirma que pelo menos 530 grupos extremistas, com cerca de até dez mil simpatizantes existam no Brasil, um crescimento de 270,6% de janeiro de 2019 a maio de 2021. A professora realizou uma grande descoberta, ao identificar em uma plataforma neonazista uma ligação direta com a própria página do então deputado Jair Bolsonaro. Além disso, encontrou uma carta do presidente publicada em sites neonazistas no ano de 2004.
O discurso de ódio, as fake news, o preconceito e a discriminação praticadas por seguidores de Bolsonaro mostram uma curiosa relação entre a expansão do nazismo no Brasil e o modo de governar do atual presidente. Machistas recalcados e frustrados, que extravasam seu ódio contra a mulher, nordestinos, imigrantes, negros, judeus e população LGBTQI+, fazem parte desses grupos. Os extremistas de direita não pensam duas vezes para agredir e matar.
Bolsonaro utiliza uma cortina de fumaça ao afirmar ser amigo de judeus, de Israel, de negros e assim tentar disfarçar sua simpatia pelo nazismo, mas como dissemos, as estatísticas e as atitudes de Bolsonaro provam exatamente o contrário. Há também muitos representantes do seu gabinete e fiéis aliados que demonstraram por diversas vezes estarem alinhados com ideologia nazista. O Brasil já foi exposto como o articulador central da extrema direita no mundo. Uma organização não-governamental conhecida como SaferNet Brasil confirma que o Brasil ocupa a sétima posição no ranking sobre nazismo na internet.
Por todos os dados acima expostos, não podemos mais tolerar o discurso de ódio. Não podemos aceitar a discriminação social e religiosa. Não podemos tolerar o neonazismo que cresce impune sob os olhos das instituições brasileiras e da sociedade.
Namir Martins é membra da Fibra e do Coletivo Desmascarando o Bolsonaro Já! , na Alemanha.
Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pela autora, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.