Representantes da comunidade negra e quilombola se unem em live pela internacionalização da luta contra a violência neste domingo (17), às 15h, horário do Brasil.
Superlive – Vozes Negras Contra a Violência: ”O silêncio não salva ninguém”
A FIBRA – Frente Internacional Brasileira Contra o Golpe e pela Democracia inicia em 17 de setembro a série de super lives “Vozes contra a Violência”. A data marca um mês do assassinato de Mãe Bernadete. Lívia Sant’Anna Vaz, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia; Bárbara Carine, criadora do perfil @uma_intelectual_diferentona, doutora em química e escritora; Rafael Marques, jornalista investigativo e ativista político angolano; Douglas Belchior, historiador e fundador da Coalizão Negra por Direitos e Okwei Odili, cantora nigeriana são alguns dos nomes confirmados para a estreia.
Diante do crescimento dos casos de violência, que começou a partir dos discursos de ódio promovidos pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e se intensificou em vários estados brasileiros, no decorrer da sua gestão, os integrantes da Fibra decidiram unir forças com várias vozes para despertar a atenção da opinião pública internacional e encontrar soluções para confrontar a escalada da violência contra a comunidade negra, indígena, feminina e lgbtqiapn+.
O “silêncio não salva ninguém: quem mandou matar Mãe Bernadete e Binho?” é o tema do primeiro episódio “Vozes Negras Contra a Violência”. Idealizada com o objetivo de expor todo sofrimento e apagamentos – execuções sumárias e sem julgamentos – impostos às comunidades negras e quilombolas, a super live pretende pautar a necessidade urgente de cobrar políticas públicas que assegurem a vida da população negra.
A transmissão do 1º episódio “Vozes Negras Contra a Violência” será às 15h, horário de Brasília e às 20h, horário de Berlim, através dos canais de streaming do Youtube e do Facebook da Fibra Internacional @fibrainternacional e dos canais parceiros.
A representante da Fibra, na Alemanha, Miriam Casas, pretende ampliar e fortalecer a luta antirracista: “O racismo mata, por isso o objetivo desse encontro é incomodar. O silêncio não pode ser transformado em linguagem. O silêncio não salva ninguém. Quem mandou calar a voz de Mãe Bernadete, quem mandou apertar aquele gatilho, quem mandou apagar as evidências? Ainda não descobriram quem mandou matar Marielle, ainda não descobriram quem mandou matar Binho. Planejam mudar os fatos para nos confundir, mas o grito ancestral ecoa em nossos corações. A verdade precisa ser revelada. Eles invisibilizam e sacrificam nossos irmãos e irmãs e os impedem de viver em paz em seus quilombos. Não se conformam com a liberdade. Os querem presos, famintos, moradores em situação de rua, pedintes, escravizados. Não desistiremos de clamar por nosso povo, nossa ancestralidade viva, nossos guardiões da terra”, finalizou.
COBERTURA DA MORTE DE MÃE BERNADETE
Uma grande reportagem investigativa feita pelo jornalista André Uzêda foi publicada no Intercept em 30 de agosto. Em caixa alta, o título dá indícios sobre o motivo que levou ao assassinato da ialorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares: “MÃE BERNADETE E BINHO DO QUILOMBO LUTAVAM CONTRA EMPRESA DE FILHO DE EX-GOVERNADOR DA BAHIA ANTES DE SEREM MORTOS”.
Além do site, vários veículos de imprensa do Brasil e do mundo noticiaram a crueldade com que Mãe Bernadete, 72, foi assassinada em sua casa, sentada no sofá, sem chance de defesa, no dia 17 de agosto de 2023. Depois de trancarem os netos em um quarto, dois homens de capacete atiraram 22 vezes contra a ialorixá. Só no rosto foram 12 tiros. O número de disparos (22) parece querer deixar uma mensagem nada subliminar.
Bernadete Pacífico investigava o assassinato do seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, 36 anos. Atingido por 16 tiros em 19 de setembro de 2017, Binho do Quilombo foi morto em frente á escola “Centro Comunitário Nova Esperança” com o mesmo modus operandi que assassinaria a sua mãe, quase seis anos depois. Foram 12 tiros no rosto e quatro no tórax.
À TV Brasil, Jurandir Wellington Pacífico, único filho vivo da líder quilombola, disse em entrevista que o mandante do assassinato de sua mãe teria interesse no território ocupado pelo Quilombo Pitanga dos Palmares, no município de Simões Filho (BA). Segundo depoimento dele, desde 2016, Mãe Bernadete era ameaçada de morte.
Wellington também confirmou que a mãe estava no programa de proteção à testemunhae, por isso, havia câmeras em volta da casa, mas que os policiais só visitavam o local por 20 ou 30 minutos por dia, não ficando de prontidão na comunidade.
Para a reportagem da Fibra Internacional, Jurandir clamou por justiça: “Eu sou um filho, um irmão destruído pelo sistema. O secretário de segurança pública concedeu uma entrevista dizendo que já tem três presos, suspeitos de terem assassinado a minha mãe. Mas, o assassino de Binho do Quilombo mostrou o rosto no pedágio e não foi preso. A Justiça tem que ser cega para não escolher nem a cor e nem a classe social do indivíduo que está sendo julgado, mas, infelizmente, ela enxerga a quem julgar. Eu confio em Deus e em Xangô, que farão justiça porque o projeto é dizimar a família Pacífico; dizimar a família que tanto fez por essa região metropolitana de Salvador, que tanto fez crescer esse município. Eu peço justiça e faço as perguntas que não querem calar: quem mandou matar Binho do Quilombo e por que o crime ainda não foi elucidado? Por que não foi feito o reconhecimento facial do assassino e quem mandou matar Mãe Bernadete? Essa é dor de um filho, que perdeu a mãe e o único irmão, concluiu.
Mesmo diante de tantos clamores, matérias, manifestações públicas e indícios de que o crime tinha motivações relacionadas ao território, espaço ocupado pelo Quilombo, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, afirmou que a hipótese mais provável da polícia para a motivação do crime era a de disputa de facções criminosas. Tese que foi totalmente refutada pelo advogado David Mendez, que representa a família de Mãe Bernadete. Ele também pediu para ser beneficiado no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), do governo federal.
CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL
De acordo com o levantamento feito pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), só na Bahia, 11 quilombolas foram mortos nos últimos 10 anos. A maior parte foi morta a tiros. Mãe Bernadete é a 11ª vítima. O primeiro caso registrado foi o assassinato de Binho do Palmares, em 2017.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que desde 2019, a Bahia é o estado com maior número absoluto de mortes violentas no país. Mais de 2.500 só no primeiro semestre deste ano. O Estado está a frente do Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo e Ceará. Entre 28 de julho e 4 de agosto, 10 pessoas morreram vítimas de chacinas policiais no Rio de Janeiro e 32 na Bahia. Em São Paulo, sob a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Operação Escudo na Baixada Santista, matou 18 pessoas e prendeu mais de 460. É a mais letal desde o Massacre do Carandiru, em 1992.
Diante deste quadro de horror, as organizações do movimento negro se uniram para lutar por justiça. Reivindicam que o Supremo Tribunal Federal (STF) proíba “operações policiais com caráter reativo” e “grandes operações invasivas em comunidades sob pretexto do combate ao tráfico”; exija câmeras em uniformes de agentes armados (estatais e privados); crie um plano nacional de indenização para apoiar familiares de vítimas do Estado, federalize as investigações de chacinas policiais, a desmilitarização das polícias e o fim da guerra às drogas.
LIDERANÇAS QUILOMBOLAS SÃO ALVO
O assassinato da Mãe Bernadete em 17 de agosto evidenciou o perigo a que todas as comunidades quilombolas brasileiras estão submetidas. O crime provocou o processo de desterritorialização, movimento pelo qual se abandona o território, em consequência do medo provocado pela extrema violência e cerceamento de direitos. A família da ialorixá se viu obrigada a sair da comunidade quilombola após o crime e continua sob proteção da Polícia Militar.
Assustados e com medo, os moradores de Quilombo Pitanga dos Palmares permanecem em suas casas, agora, sem a presença da Mãe Bernadete, que além de líder do território, era gestora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).
As lideranças são as mais atingidas por esses conflitos. Elas representam a maior frente de luta e resistência negra contra o capitalismo, o latifúndio, o agronegócio e a grilagem de terras. O direito à titulação destas terras está asseguradono artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988. Mesmo assim, a luta histórica das Comunidades Quilombolas não acaba.
A perpetuação da desigualdade racial impede o pertencimento territorial e mantém a população negra na condição de escravização. As violações dos direitos adquiridos pelas comunidades quilombolas funciona como uma forma de dominação. Essas lideranças e suas comunidades resistem à necropolítica, que dita quem pode viver e quem deve morrer.
A marca principal das agressões é baseada no critério de raça e afeta significativamente a vida da população negra, especialmente da quilombola, que sofre com os inúmeros assassinatos, violações e agressões a que é submetida em decorrência da luta pelo território. Esse processo manifesta as formas mais cruéis de violência física e psicológica, como o cerceamento de direitos essenciais, como o acesso à saúde, a educação, ao saneamento básico e a segurança, necessidades essas tão bem explicadas na carta escrita sobre a comunidade quilombola Rio dos Macacos, e entregue ao presidente Lula em Salvador pela líder Rose Meire dos Santos. O Quilombo vive há mais de 50 anos, desde 1960, em disputa com a Marinha do Brasil. São as formações geográficas, estruturais e históricas de cada quilombo que ditam a violência que incide sobre a comunidade.
O Brasil foi o último país a se livrar do regime escravocrata, que condenou seres humanos a viverem como escravizados e destituídos de memória, história, raízes e origens. Esse foi um dos períodos mais cruéis do país. Infelizmente, o racismo, os conflitos fundiários, a luta por direito ao território, o direito de existir e de pertencer ainda podem falar sobre esse período, que parece nunca terminar.
SÉRIE DE SUPER LIVES “VOZES CONTRA A VIOLÊNCIA”
A transmissão do 1º episódio “Vozes Negras Contra a Violência”será às 15h, horário de Brasília e às 20h, horário de Berlim, através dos canais de streaming do Youtube e do Facebook da Fibra Internacional @fibrainternacional e dos canais parceiros.
PROGRAMAÇÃO
Assista a 1ª temporada da série de super lives “Vozes Contra a Violência” neste domingo, 17 de setembro, a partir das 15h, horário de Brasília.
Episódio 1 – Vozes Negras Contra a Violência
Tema: O silêncio não salva ninguém: quem mandou matar Mãe Bernadete e Binho?
Mediadores: Paulo Roberto, Miriam Casas, Livia Casas, Edmilson Barbosa, Edmilson Magrão
Episódio 2 – Vozes Femininas Contra a Violência
Tema: O silêncio Mata Mulheres
Mediadora: Lia Afrontosa, publicitária e influenciadora digital
Episódio 3 – Vozes LGBTQIAPN+ Contra a Violência
Tema: Amar sem temer a morte
Mediadora: Petra Péron
SERVIÇO
FIBRA lança série de super lives contra a violência negra, feminina e LGBTQIAPN+. O primeiro episódio será “Vozes Negras Contra a Violência” neste domingo, 17 de setembro, às 15h, horário de Brasília. Compartilhe, participe das lives nos canais Fibra @fibrainternacional no YouTube e no Facebook.