Texto e fotos:
Rejane Modesto
(Barcelona, 24/25.04.2021)
Foram dois dias de denúncias e protestos, muitos protestos no palco do Teatro ANTIC, em Barcelona. A segunda fase das Jornadas Antifascistas da Assembleia Mulheres Brasileiras Contra o Fascismo/MBCF no Festival CREG teve a diversidade como tema. A primeira parte foi realizada em julho do ano passado e devido à pandemia, foi totalmente online. O que se quis nesta segunda fase foi mostrar ao mundo que o Brasil sofre uma destruição, dos seus direitos, da sua terra, do seu povo. Nesta fase presencial as “minorias” brasileiras foram representadas pelo índio, pelo negro, pelos trans, pelas mulheres. Todos atingidos por um “Governo de exceção, que transgride e mal interpreta as nossas leis, que rasga a nossa constituição”.
Logo de entrada as membras do MBCF leram a carta denúncia enviada à Organização das Nações Unidas na qual relatam todos os desmandos do Governo de Jair Bolsonaro. Entre os relatos estão o assassinato da vereadora pelo Rio de Janeiro, Marielle Franco e o seu motorista Anderson Gomes, a utilização da Lei de Segurança Nacional para perseguir e prender pessoas que denunciarem fatos do Governo Bolsonaro e a denúncia de fake news em relação ao tratamento da covid-19. Enfim, o machismo, racismo, a homofobia incentivados pelo atual governo brasileiro.
O teatro Amazonas foi a segunda atração do primeiro dia do Festival. No palco foram lidos relatos da destruição da selva durante mais de século. O avanço de construções irregulares, estradas e plantações de agricultura considerada “invasora” à mata amazônica foram montados pouco a pouco no palco, à medida em que eram lidos relatos de expertos que estudaram e acompanharam a destruição.
Além do Teatro Amazonas, se pode ver também a denúncia do extermínio dos povos e da cultura indígenas brasileiros com a exibição através de vídeo do espetáculo Ritual, de Zahy Guajajara, líder indígena do Maranhão, que atualmente vive em Londres e Salissa Rosa. Após a exibição, a Zahy participou do debate sobre o Teatro Social e a Luta, com a teatróloga Cecília Boal e Integrantes do Teatro Amazonas, mediados pelas membras do MBCF, numa conexão Londres, Barcelona e Brasil.
A primeira noite foi encerrada com o show Finestra Fina, das cantoras Jeca Mó e Aina Bonet, uma parceria musical entre Brasil e Franca. Na carta do show, músicas que foram de Amy a Gilberto Gil e Dominguinhos
O segundo dia do Festival não foi menos interessante. Teve a cultura negra e diversidade no palco do ANTIC. O mestre Edy Pantera, através do espetáculo “o pé que dança, se preciso, vai à luta” mostrou a resistência do povo preto através da dança e da capoeira.
Depois, a atriz Kelly Lua aportou com o seu “a cobra” no palco do ANTIC, dando uma sacudida no imaginário do respeitável público.
A noite estava apenas começando quando atriz Amanda Araújo entrou. Ela apresentou o sofrimento interno e externo dos transgêneros através do “A nova Eva”, levando quem queria e não queria a refletir sobre o tema. O nu foi usado como forma de mostrar a retirada dos conceitos e preconceitos que o nosso corpo transmite. Ao final das três performances, os artistas Edy Pantera, Kelly Lua e Amanda Araújo participaram do debate “caminhos e resistências: como re-existir”, mediados pela membra do MBCF, Dai Sombra.
Ah, antes de encerrar, uma surpresa! O festival coincidiu com o dia mundial de protestos “Fora Bolsonaro” e integrantes de diversos movimentos sociais foram ao palco para compor uma faixa gigante. E teve mais surpresa.
Membras do Mulheres Brasileiras contra o fascismo foram pouco a pouco ocupando o palco para formar o espetáculo “Dilema Migrantes”. Foram lidos relatos de pessoas que migraram para a Europa e que tiveram que retornar ao Brasil ou que se negam a voltar, mesmo com a situação adversa no continente europeu. As apresentações foram intercaladas com áudios de conselhos de brasileiros sobre a volta ou não destas pessoas ao Brasil.
***