O Dia Mundial do Jair Caindo e os 3 motivos desse 3 de Julho

“É chato chegar a um objetivo num instante” (Raul).

@1flaviocarvalho, sociólogo, escritor e participante da #fibrabarcelona.

3 de julho de 2021.

O Brasil dividiu-se recentemente. Entre os surpreendidos e os que já esperavam a antecipação da data de protesto #forabolsonaro. Uniu-se, por outro lado, a prioridade estratégica: a derrubada imediata de um governo que já não representa nem aqueles que, como ratos, abandonam o barco – pressentindo o perigo do naufrágio.

No exterior, exceto aquela voz minoritária, diagnosticada com Exacerbadus Egos (“se não estou à frente não vou, mas invento outro motivo”), a imensa resposta, por exemplo, dos Coletivos que compõem a FIBRA foi: sempre que o Brasil necessitar solidariedade para enfrentar esse desgraçado, aqui estaremos, de pé e cabeça erguida. Seja na data que for.

Pois não será de outra maneira, nesta nova jornada mundial de mobilizações que vão desde originais piqueniques de verão europeu a ocupar os mesmos locais emblemáticos dos protestos anteriores. E não deixa de ser interessante que alguma mensagem de redes sociais inclua o lugar exato da concentração bolsonarista como “aquela mesma praça de sempre”. O fascista conseguiu fazer com que o brasileiro no exterior já tenha o seu lugarzinho de protesto de estimação. Não há mal que para o bem não venha.

Serão três, daqui pra frente, os eixos norteadores deste três de julho. Esta é a minha opinião.

Que as frentes que convocam o Dia Nacional de Protesto deem-se cada vez mais conta que não é somente um “Dia Nacional”. Que as fronteiras imaginárias já foram atravessadas. Que é um Dia Mundial de Luta antibolsonarista. E que não é somente a quantidade de brasileiros emigrados antibolsonaristas que aumentou. É pública e notória a adesão de pessoas e organizações de diversas nacionalidades que adotaram o presidente fascista como uma ameaça ao futuro da humanidade. Já não necessitamos “explicar Bolsonaro” a um europeu.

Que as Frentes nos escutem e nos incluam, portanto. Por mais conscientes que sejamos de que o protagonismo sempre deverá ser dos milhões de brasileiros que resistem bravamente contra a ofensiva fascista assassina, genocida, no nosso país. Contem conosco, por favor.

O outro fator mais polêmico é e será, de forma inevitavelmente crescente, a falsa dicotomia entre os três Ps como pedra filosofal da atual conjuntura. O perigo mora aqui.

A Política, a mais ampla, no sentido mais abrangente. Não existe o que tentaram denominar de apolítica, com o prefixo a no sentido de negação da política. Não é de hoje que a própria filosofia política já definiu o anacronismo: sempre que o opressor tentar disseminar que não há política na sua tentativa de (falsa) isenção é porque está sendo beneficiado por determinada forma de fazer política. Benefício que o seu privilégio tenta disfarçar de inexistente. E foi muito ruim, dentro da esquerda, perceber confusão entre apolítica e apartidarismo, naquele falso debate de se a bandeira do partido cabe ou não nos atos de hoje.

A questão Partidária que será cada vez mais visível daqui pra frente, na medida em que a própria conjuntura seja atropelada por duas circunstâncias recentes e plenamente compatíveis: a derrubada institucional de um governo, dentro das regras criadas pela própria elite oligárquica do capitalismo brasileiro, como vitória urgente e necessária de parar ou diminuir imediatamente o genocídio, a perda diária de vidas; e uma campanha eleitoral absolutamente atropelada pela instabilidade destas mesmas circunstâncias. Não esqueçamos que o próprio Bolsonazi foi capaz de afirmar que as próprias eleições que o levaram ao poder foram fraudadas (prometendo apresentar provas e depois desdizendo-se). E que aumentam as suas próprias declarações de premonitória ameaça de golpe, já suficientes para afastar-lhe do poder, se estivéssemos em qualquer suposto país democrático.

E o antiPetismo como fenômeno polarizador produzido pelo novo fascismo brasileiro, que busca desvirtuar (e acaba atraindo até mesmo o famoso canibalismo de esquerda) qualquer tentativa de não mostrar os verdadeiros eixos da desigualdade estrutural brasileira: racismo contra antirracismo (sem espaço para meios-termos; e não foi a toa que o destaco em primeiro lugar, ao tratar-se de um Brasil que a própria esquerda fingia não conhecer), machismos contra feminismos (escrevi propositadamente no plural) e a velha, mas nem por isso menos presente, luta de classes dentro da atual hegemonia capitalista.

Parar pra pensar, e não necessariamente já tirar conclusões precipitadas, sobre os temas anteriores ajudará, por exemplo, na hora de compreender – de uma forma ou de outra – os gestos do político mais experiente e com maior capacidade de derrotar o fascismo nas urnas. Há realidades na política que nos superam absolutamente, gostemos ou não. Mas a (in)compreensão desta realidade política depende de nós, muito mais do que “dos políticos”.

A mera reflexão e não necessariamente a “verdade absoluta” sobre todas estas questões (optar pelo debate, sempre) garantirá ou não que a luta não seja de um sábado apenas. O Brasil não escolhe um dia de lutas para parar e gritar. O Brasil tem sido luta permanente, diária, incessante. Uma picada no braço ontem ou hoje: disso nunca esqueçamos!

Flávio Carvalho

Uma trans ou indígena brasileirx não escolhe um sábado de julho para resistir (e sobreviver). Não pode dar-se ao luxo de escolher apenas um dia, como Dia Nacional da sua luta. O Dia Nacional da sua luta é meu. Foi ontem. E hoje. E sempre.

É nisso que temos que pensar. Não basta fazer o cartaz e sair um dia para gritar em praça pública na Europa (por mais importante que isso seja hoje em dia!).

Ou o ser revolucionário é um ser humano em revolução permanente, ou não brinquemos de fazer revolução.

Se gostar deste texto siga-me, por favor, em @quixotemacunaima.

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