@1flaviocarvalho, Coletivo Brasil Catalunha. Sociólogo e Escritor.
Barcelona, 2 de agosto de 2021.
A grande novidade é, infelizmente, uma velha notícia: a fome no Brasil.
“Quem faz café virar dólar e faz arroz virar fome é o mesmo que põe a bomba suja no corpo do homem. Bomba colocada nele pelos séculos de fome. E que explode em diarreia no corpo de quem não come. Não é uma bomba limpa: é uma bomba suja e mansa que elimina sem barulho vários milhões de crianças”. (A Bomba Suja. Poema de Ferreira Gullar).
Vacina no Braço e Comida no Prato foram os temas principais das quatro últimas jornadas internacionais de protesto contra o desgoverno BolsoNero, convocadas pelas frentes de movimentos sociais brasileiros. Sempre com ampla repercussão no exterior. Agora, até a ordem da frase está se invertendo: Comida no Prato e Vacina no Braço, sem serem incompatíveis.
No momento em que as ajudas emergenciais estão se acabando, agora que piora a crise econômica no Brasil, e que o próprio desgoverno aprofunda a crise institucional (como se não fosse suficiente estarmos no meio de uma Sindemia combinada com Genocídio), o Mapa da Miséria, no Brasil, está retornando aos piores níveis do final do milênio passado.
Nesse sentido, a boa nova é a resposta – dos coletivos internacionais que participam da Fibra – a uma demanda nacional e em perfeita sintonia com o que está acontecendo no nosso país. A imensa maioria do povo mais empobrecido carece das mínimas condições (básicas, alimentares, de ajuda humanitária): a comida no prato é fundamental, até mesmo na hora de sair pra luta antifascista.
Morando no exterior, sempre tivemos que lidar com uma Falsa sensação de que nos países do eixo norte do mundo, não há miséria. Mas, em perigosa comparação, é ao mesmo tempo inegável que a situação de desmonte de qualquer estado de bem-estar social no Brasil ainda não nos tirou da triste herança escravocrata. Não é acaso que a maioria do povo seja a mesma maioria que mais sofre o racismo estrutural, cotidiano, que nunca foi sutil.
Por isso, já no meio da Sindemia (a Pandemia caracterizada como desigual, como pior castigo aos mais vulneráveis), surgiram algumas campanhas – por espontânea ideia dos coletivos participantes da Fibra, tanto na Europa quanto na América do Norte.
Em Nova York, por exemplo, os coletivos “Mulheres da Resistência no Exterior”, “Brado” e “Reconvexo”, se uniram numa campanha para arrecadar fundos para cinco organizações no Brasil. Com o apoio solidário de 25 dólares, as camisas #StopBolsonaro podem ser enviadas para qualquer lugar dos Estados Unidos, e 100% dos recursos arrecadados serão destinados ao US-BR Covid Relief. Motivos e formas diversas de ajudar – com dinheiro mesmo – não faltam.
Um dos primeiros Coletivos a organizar uma campanha de arrecadação financeira direta, dentro da Fibra, foi o Coletivo de Amsterdã. E começou logo em dose dupla, plenamente consciente da urgência. No website da Fibra, há duas campanhas já em bom andamento. Uma trata da arrecadação direta, sem intermediários, para o Centro de Formação Paulo Freire, do MST. A outra, também de transferência bancária direta, está obtendo êxitos na arrecadação para o Fundo Emergencial do MTC , cujo dinheiro vai para as mais de cinco mil famílias do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores do Campo, o MTC. Mas ainda falta a sua contribuição. Faça-o logo, por favor.Neste mês de agosto (corra, pois é só até o dia 20), está sendo lançada outra iniciativa, junto com a Coalizão Negra por Direitos e com a ajuda do Fundo Brasil de Direitos Humanos. A Campanha Tem Gente Com Fome já é todo um êxito internacional. Mas ainda cabe sua ajuda. O Coletivo por um Brasil Democrático de Los Angeles chama a atenção de todos os Coletivos da Fibra para este momento específico e intensivo: ajudar, doando dinheiro diretamente.
Importante lembrar que, qualquer recurso (por menor que seja), é importante – principalmente depois da política econômica desastrosa que desvalorizou muitíssimo o Real, em relação com outras moedas do mundo. Assim, o dinheiro de um almoço na Europa, pode ajudar toda uma família no Brasil, durante vários dias. E principalmente as famílias que mais precisam dessa ajuda urgente.
O Governo que cobra propina na compra de vacinas foi capaz de reduzir as ajudas sociais bem no meio desta crise sem precedentes. Crueldade? Genocídio. Eliminar os mais pobres, ajudar os milionários que lhe apoiam, sacrificar indígenas, quilombolas, povos tradicionais…
Por último, existe a iniciativa desenvolvida na Catalunha, desde mais de dez anos, pela ONG Garraf Coopera, cujo coordenador é participante da Fibra, em Barcelona. A iniciativa foi debatida na assembleia local da Fibra, no sindicato Comisiones Obreras, e segue a estratégia de ser assumida por coletivos que compõem a Fibra, em duas linhas: uma ação emergencial, humanitária, de doações de cestas básicas; e outra ação mais estrutural, em um projeto de cooperação internacional de longo prazo e com amplo reconhecimento no Brasil e no exterior. Esta campanha coordenada por mulheres, com a Justa Trama – rede de economia social e solidária, que envolve vários estados e movimentos sociais do Brasil (inclusive o MST e a CUT) – produziu um documentário – em formato de cinema – cujo trailer pode ser assistido neste link: https://lajustatrama.wordpress.com/el-documental/
Faça a hora. Não espere acontecer.
“Mas precisamos agora deter o sabotador que instala a bomba da fome dentro do trabalhador. E, sobretudo, é preciso trabalhar com segurança pra dentro de cada homem. Trocar a arma de fome, pela arma da esperança”. (Gullar).
Conheça! Divulgue!
A fome é agora. Doe!