Chile a história se repete trazendo alegria e entusiasmo

Por Inêz Oludé, para o site da Fibra.

23.12.2021

“O povo unido jamais será vencido.
de pé, cantar
que vamos triunfar
seguindo em frente
bandeiras da unidade
e você virá
marchando junto a mim
e assim verá
seu canto, sua bandeira
florescer na luz
de um vermelho amanhecer
que anuncia já
a vida que virá.”

A primeira vez que ouvi esta maravilhosa canção de luta, esperança e de união do povo, foi no dia 1° de maio de 1973, em Santiago do Chile, Tinha 20 anos e já era exilada. Ainda ecoam em mim as mil vozes que se juntaram nesse dia de grande tumulto no coração, cada vez que a ouço, sinto a mesma emoção. Hoje com histórica vitória de Boric, o jovem companheiro presidente, chego quase a acreditar, aos 69 anos, que ainda verei a Pátria Grande se revoltar e sair do jugo americano.

Foto: Selfie de Boric, por Boric.

O que senti ao ver 1 milhão de pessoas nas ruas para comemorar, esta data tão importante para os trabalhadores, é indelével. Apesar de ter passado tanto tempo, ensaio um passo de dança e canto que 50 anos non és nada, como dizia a canção de Gardel.

A direita fascista, estava atacando o governo democrático e legítimo com todos os meios que dispunham para derrubar o governo popular, entre eles, a sabotagem dos transportes. Isso não nos impedia de vir de todos os lados, a pé, de carona, vi até camponeses chegando em cima de tratores, para ouvir o companheiro Allende, enquanto cantávamos, com entusiasmo, “o povo unido jamais será vencido”!

Foto: Arquivos do Chile.

É uma lembrança bela e dolorosa, porque também lembra a traição e o golpe de estado do 11 de setembro, comandado pelo famigerado ditador Pinochet, o lacaio a serviço dos americanos e seus lacaios.

“de pé, lutar
que o povo vai triunfar
será melhor
a vida que virá
pra conquistar
nossa felicidade
e em um clamor
mil vozes de combate
se levanestarão, dirão
canção de liberdade
com decisão
a pátria vencerá.”

Não foi só para mim que esta data ficou feito tatuagem na memória, com certeza que foi o momento de mais entusiasmo para os exilados de toda a América Latina, que tinham buscado proteção no Chile, após tantas derrotas no Continente vítima dos há 500 anos de países colonizadores, saqueadores, genocidas.

Havia refugiados do Brasil, do Uruguai, Bolívia, Peru, da Guatemala, Venezuela, do México, e gente de todos os continentes. Todos buscávamos uma razão para continuar na luta. Tal a adesão sentimental à luta de um povo, não havia acontecido desde a Guerra da Espanha,1936-39, durante a qual artistas, brigadistas e militantes de todo o mundo, prestaram apoio, muitos com a própria vida, a um povo agredido pelo nazi-fascismo. A guerra de Espanha, foi o primeiro balão de ensaio de Hitler e Mussolini para testar as reações dos países democráticos aos seus planos colonialistas, depois vieram os acordos de Munique de 1938, a Tchecoslováquia desapareceu e a partir dai, Hitler entendeu que não haveria obstáculos aos seus planos de ocupar a Europa, principalmente o Leste europeu, e particularmente a URSS, seu sonho de consumo de vidas humanas, mesmo após o acordo de não agressão assinado por Stalin com Hitler em 1939. Mas isso é outra história, contarei em outra ocasião.

“e agora o povo
que se levanta na luta
com a voz de um gigante
gritando: adiante!
o povo unido, jamais será vencido
o povo unido, jamais será vencido.”

A história se repete, cabe a quem tem juízo e amor à vida, de fazer o possível e o impossível para que não termine outra vez em tragédia, como no passado. Por um lado, o fascismo, com sua cadela sempre no cio, que mostra novamente seu rabo, suas garras, seus chifres, babando de ódio, criando divisões, e destruindo tudo sob sua passagem marcada pela hidrofobia. Por outro lado, os povos da Bolívia, o Peru, o Chile, a Argentina, o México, se levantam e tratam de reparar os abusos do neo liberalismo e retomar o rumo da justiça social. O Brasil também pode retomar o fio da vida, reparando os erros da história, elegendo quem defende seus direitos.

“a pátria está
forjando a unidade
de norte a sul
se mobilizará.
desde as salinas
até o fogo do mineral
ao bosque austral
unidos na luta
e no trabalho irá
a pátria cobrirá
seu passo já
anuncia o porvir”.

Cuba e Venezuela resistem às agressões do império, o Brasil, corre atrás de tirar do poder o energúmeno que por burrice ou inércia, 57 milhões de brasileiros colocaram no governo, claro impulsionados por corporações de traidores da pátria fardados e civis golpistas (particularmente a Lava Jato, os milicos nostálgicos da ditadura, partidos golpistas da direita do Senado e Congresso, obedecendo a um narcotraficante tucano, hoje deputado aliado do Cudigrudi. Sim, estou falando daquele que não aceitou o resultado das urnas em 2014. A mídia-esgoto, a Fiesp e o judiciário com tudo, além de alguns grupos recém-nascidos que arrastaram tranqueiras oportunistas nas ruas berrando pelo impeachment de uma presidenta honesta. Embusteiros, que enganaram os incautos se declarado anti-política, anti-sistema e hoje são deputados, dos partidos do dono do sistema Centrão. Os estelionatários, sabotam a democracia, destroem as instituições, se lambuzam na lama da corrupção e recebem milhões do orçamento secreto para votarem contra os direitos dos trabalhadores. A direita fascista como não ganha nas urnas, tiram no tapetão e no golpe.

Mas, estamos percebendo um Luís no final do túnel… tomemos as ruas, lutemos como os chilenos, os bolivianos e outros que retomaram as rédeas do poder em seus países.

“de pé, cantar
o povo vencerá
milhões já
impõem sua verdade
o aço é
batalhão de fogo
suas mãos trarão
 a justiça e a razão
mulher
com fogo e com valor
aqui está
ao lado do trabalhador”.

Esta é a mensagem de otimismo que eu posso escrever neste fim de ano de desgraças do Cudigrudi, a pior situação que já vivemos, para recuperamos a dignidade, a democracia e o respeito por nosso país.

Eleger este parasita incompetente, foi a maior cagada já feita no Brasil. O Cudigrudi miliciano, corrupto, misógino, machista, racista, homofônico, rei da rachadinha, pai da mentira, genocida, foi eleito por 57 milhões de votos, isso representa 1/3 dos eleitores, ¼ da população do Brasil, ou seja: uma minoria barulhenta, desqualificada, rasa, baixo astral, ignara, cínica e malévola se tornou maioria e que passa pano para a familícia e sua quadrilha de mamateiros. As causas da eleição deste asqueroso e repugnante personagem, são claras: anulação de votos, absenteísmo, fuga pra Paris, indecisão, ódio e burrice.

Em 2022, o objetivo principal é derrotar o fascismo. Apertemos o dedo na urna com sabedoria, inteligência, aprendamos a lição, escutemos o Pau no Guedes que recomenda: “sigamos o exemplo do Chile”. Por enquanto só temos este caminho.

O povo unido, jamais será vencido!

Inêz Oludé: artista artivista e poeta subversiva, foi perseguida no Brasil exilada no Chile (1973), ex-presa política na Argentina (1975-76).

Bruxelas 21/12/2021

Para escutar o original em espanhol : El pueblo unido jamás será vencido

musica de Sérgio Ortega, letra de

Quilapayún, interpretado em 74 por Inti Llimani

Manifestação de 2019, praça Itália no centro de Chile

outra versão com a orquestra sinfônica e coro
https://youtu.be/XgnXAymPyGE

Ouça também o podcast onde Inês Oludé amplia os conhecimentos sobre este artigo:


Inêz Oludé é artista artivista, poeta subversiva, formação em história da arte, arqueologia e pintura monumental. Membra da coalizão internacional de artistas da Unesco e da FIBRA.

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