De Flávio Carvalho, para o site da FIBRA. Sociólogo e Escritor.
Pernambucano, em Barcelona, 07 de outubro de 2022.
“Eu acredito é na rapaziada,
que segue em frente e segura o rojão.
Eu ponho fé é na fé da moçada,
que não foge da fera e enfrenta o leão”
(Gonzaga Jr; Gonzaguinha).
- Se atacam pela questão religiosa, corra para o laicismo.
Ao cair na armadilha de tentar trazer o debate para o campo da moralidade espiritual, já ganhou o fascista, se você deixou seduzir-se ao seu fanático terreno de jogo. Nem entre. Evite. Preservar-se disso é o melhor pra você e pro mundo. Daí, já exercerás quando queiras. Não permita que o fascista decida.
2. A arte da guerra é apropriar-se da força mais que da debilidade do inimigo.
O fascista te dá armas a cada dia. Saiba como utilizá-las. Desarmado, o fascista é um covarde. Analise-o. Observe como caga nas calças, a cada dia. Cairá escorregando na própria merda. Mas, sempre se pode dar um empurrãozinho, para que escorregue mais rapidamente. Sua arma fede, insuportavelmente.
3. Escolha bem como usar o seu precioso tempo.
Planeje bem suas ações. Não perca tempo “chutando cachorro morto”. O teu diagnóstico sobre quem pode ser interpelado, e quem não adianta fazeres nada, é uma riqueza. Pratique. Só tens a ganhar. Nada a perder. Paulo Freire falava em “ler o mundo”. Fascista não lê. Leia, você, sim. O mundo e os livros.
4. Humanize. Individualize. Personalize.
Tenha a coragem e dedique um mínimo tempo a mandar mensagem direta a um indeciso, prioritariamente, ou a um bolsonarista. Será que não se incomodam a serem empurrados a pertencer a um grupo que – hipocritamente – pensam que não fazem parte? Todo fascista necessita e não gosta, ao mesmo tempo, de olhar-se no espelho da alma. “Só se vê bem com o coração” (dizia o Pequeno Príncipe, escrito por Saint Exupéry: “o essencial é invisível aos olhos”). “Olhe no olho”. E lhe diga.
5. Se exponha. Demonstre-se.
Uma das mais antigas formas de campanha política é identificar-se publicamente, ainda que o voto seja secreto. Esconder-se só ajuda ao adversário. Não tenha medo. É tudo o que o fascista quer. Eu me expus pessoalmente, por exemplo: perdi um parente amado, pelo Covid. E lembrei bem dele, na hora de votar.
6. Pare de enviar mensagens inócuas, improdutivas, repetitivas, mecanicamente, entre nós mesmos.
Além de tudo, elas te dopam como um efeito de desencargo de consciência. Mesmo sem querer, querendo, te fazem pensar que já fizestes todo o possível do que poderias ter feito. Isso é uma mentira. Não minta pra você mesmo (isso é o que define o conceito de hipocrisia). Há vida fora da bolha. Saia, já!
7. Desça ou não suba no pedestal.
Ainda que você tenha todos os motivos para achar que o indeciso ou bolsonarista (que merece tentar ser influenciado por você) é um completo idiota, tente não demonstrar isso. Não vá por esse caminho. Queira, neste momento, somente o seu voto. Não espere o seu martírio ou que se torne inteligente da noite para o dia. Na vida há tempo pra tudo. Esses dias serão para decidir o futuro. Aproveite-os bem.
8. Vá pra rua.
A sindemia (não foi pandemia, pois não foi igual para todos) fez muito mal à humanidade. Qualquer contato pessoal, não virtual, será agora mais intenso do que já foi antes do Covid. Experimente.
9. Sirva-se da arte.
Ela é a ferramenta mais útil pra saltar fronteiras. Uma canção, uma letra de música, um poema, uma sensível fotografia, pode valer o mesmo que uma tese acadêmica. Se o povo não quer ler, ou diz não ter tempo pra ler, ou acha que ler é burrice (quando a burrice é afirmar algo assim), a arte expressará sempre melhor, por ir direto ao coração. E um fascista ainda tem sentimento. Algum sentimento terá, se ainda não morreu. Não perca a esperança na humanidade. É nossa riqueza. É isso que fascista odeia.
10. Emocione. Fuja do racionalismo meramente mental.
Escutarás cada vez mais falsos profetas falando mal do uso da emoção na política. Mentira! Política é vida. E esse velho argumento é tipicamente patriarcal. Observe que quem o utiliza são homens brancos, verdadeiros protótipos do bolsonarista “cidadão de bem”. Nem sabem do que falam, na verdade. O choro pode ser a mais honesta expressão de um sentimento. Um sorriso aberto também.
11. Admita os seus próprios racismos, machismos, homofobias, transfobias, etnocentrismos…
Desde que não reafirmes o teu acostumar-se com eles (identificar é o primeiro passo para eliminar), descobrirás que o bolsonarismo não é um fenômeno recente: o Brasil foi construído assim. O pior cego é o que não quer ver. Talvez tenha sido esse o nosso mais importante equívoco. E pode servir para o bem.
12. Utilize o seu privilégio para acabar com ele.
O debate mais velho na ciência política é se o fim justifica os meios. Não perca tempo agora. Todo processo eleitoral é – na sua essência – antidemocrático e cheio de contradições. Quando não há tempo para mudar-se isso de hoje até o dia 30, infelizmente, a emergência é lutar contra o nazi-fascismo, como nunca antes havias feito. Depois, sim, volte logo a esses debates. Senão, daqui a 4 anos…
13. Não se trata somente de Lula. Muito menos de somente Bolsonazi. Mas, agora é Lula, sim.
Este textinho, com 13 pontos resumidos e pragmáticos, é pra servir pra pensar na vida, desde a política. E, como tem gente morrendo (agora mesmo, de fome, de bala ou vício) é preciso haver esperança de vida, para podermos ir mais além. O contrário de vida é a morte. Não tem meio termo. Se bem que, já voltaremos, com tranquilidade, a falar dos vários conceitos de como vivermos “bem”.
Agora é Lula. Lá.
Aquele abraço. Sem medo de ser feliz.
Flávio Carvalho
Sociólogo e Escritor. Residente em Barcelona. Ativista da FIBRA.
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Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.