8 de Março e Lugar de Homem

8 Sugestões. 

De Flávio Carvalho, para o site da FIBRA.
@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor.

Barcelona, março de 2023. (Para Ghesla.)

“Por causa da mulher”,
(Gilberto Gil, Super-Homem, A Canção)

Ao considerar-se progressista, de esquerda ou descontruído, todos sabemos que nesta data, a pergunta é: “o que devo fazer no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora?”

Faço 8 sugestões.

  1. Evite imaginar-se aumentando a multidão presente nos atos públicos, fazendo aquele selfie para postar no Tinder e ganhar likes feministas. Resista à essa perversa tentação. Existem várias formas de colaborar com a data, sempre em um lugar não protagonista. Pois era só o que faltava: apareceres mais do que elas, também – principalmente! – neste dia.
  • Prepare o jantar e receba a manifestante cansada, vinda da passeata, com o melhor afeto. Não sabe cozinhar? Aprenda. Já deves haver percebido que a cozinha sempre foi um histórico local de opressão patriarcal. Desde o planejamento, as compras, o trabalho invisível e o visível, até mesmo no pós-jantar, lavando e guardando a louça. E não esqueça que melhor que fazer aquele prato romântico de um jantar especial, mais vale cozinhar no dia-a-dia, todo dia, com o que tens, mesmo sem grandes elaborações. Felizmente, o melhor ingrediente culinário ainda é o amor.
  • Imaginou-se no jantar romântico acima, seguido de sexo papai-e-mamãe? Aproveite para ler mais e melhor. Começando pela desconstrução do imaginário cis, hetero, normativo. Se você é daqueles que ainda não associam essa imagem às homoafetividades (não é somente sexualidade; aproveite para ampliar seus conceitos, conscientemente), corra pra biblioteca, antes mesmo do dia 8.
  • Onde tem mulher de luta, homem cala, escuta, ajuda e participa. Exerça o seu silêncio em plenitude, com escuta ativa, percebendo o poder da sua fala, do seu discurso, da sua eloquência narrativa, com que o desgraçado sistema patriarcal tanto nos beneficiou. Construa conhecimento ao ouvir. Pode ser que ainda não tenhas percebido o quanto a tua fala, mesmo não intencionalmente, já fez muitas mulheres calar. Analise o porquê de, mesmo falando muita bobagem, o mundo parece ainda mais disposto a seguir beneficiando-te. Mais que a elas. Exerça o seu legítimo poder de calar.
  • Supere etapas. Saia da mera perspectiva de felicitar-se porque já sabes o que não deves fazer. Comece, agora mesmo, a fazer a coisa certa. Não há mais tempo a perder. Se se considera Feminista, tenha o cuidado de perceber se não está enganando, sobretudo, a si mesmo. Há um feminicídio aí fora, crescente. A pior notícia é que cada micromachismo, cada violenta conduta pornográfica, toda piadinha machista, está diretamente associada a este feminicídio, em maior ou em menor grau. Não basta nem somente já sentir-se consciente, há que atuar pela mudança cotidiana, que não está feita apenas de boas vontades. A pior mentira é que a gente conta pra gente mesmo. O pior cego será sempre aquele que não quer enxergar, por mais na frente que esteja.
  • Analise e tente compreender a diversidade de debates feministas, no plural. Se o seu legítimo interesse é de real transformação, só terás a ganhar ao trazer para o centro da vida a questão de gênero, a luta contra as homofobias, as masculinidades alternativas. Comece hoje mesmo.
  • Atreva-se a comentar estas coisas com outros homens. Eles farão mais caso daquilo que você fala do que se for falado por uma mulher. E aproveite pra parar pra pensar nesse conceito de “Homem”. O que significa, de fato? O que te faz mais ou menos homem? O que te fez chegar a definir-te assim, como Homem? Tudo aquilo que foi construído, pode ser desconstruído. Não se trata somente de reafirmar-se ou deixar de ser algo; e sim – até mesmo – de sentir-se melhor.
  • Comente este texto, divulgue, some-se ao debate consciente. Mas, por favor, priorize divulgar os atos públicos do 8 de Março. Isso sim, seria – a meu ver – a mais importante ajuda.

Aquele abraço.

Flávio Carvalho


Sociólogo, escritor, professor de teatro. Foi Coordenador de Formação do Orçamento Participativo de Olinda. Trabalhou para a CUT, para a CONTAG, para a FAO, para a UNESCO, para o MinC, para o MST…

Acesse as mídias de Flávio Carvalho:

Twitter e Instagram: @1flaviocarvalho
Facebook: @quixotemacunaima | @amaconaima

#maconaima #quixotemacunaima

Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »