Só o que faltava na Sindemia: Manaus


Pirate Bay

Por Flávio Carvalho

Barcelona, janeiro de 2021.

@1flaviocarvalho, sociólogo e escritor: @quixotemacunaima.


Na resistência cultural em Barcelona, uma de nossas principais ações é fazermo-nos de livreiros. Um dos livros mais procurados é um tal Manaus, do espanhol Alberto Vázquez-Figueroa. A Amazônia já é carregada de fama internacionalmente pelo seu nome, feminista por natureza (originalmente denominada pelo mito matriarcal das guerreiras amazonas).

Agora chegou a vez de Manaus?
Por sorte ou por desgraça?

Aparecem em diversos jornais europeus uma fama que algumas localidades já tentaram evitar: que o vírus seria “da China”, que sua nova mutação seria “inglesa”, e agora que a mais recente desgraça, uma nova versão do Covid produziu-se na África (do Sul). E agora… em Manaus!
A pobre cidade do Norte brasileiro, uma das mais castigadas mortalmente pela Sindemia, das que mais enfrentou o processo genocida do governo bolsonazi, que “viralizou” recentemente em terríveis imagens de hospitais mais que precarizados (mortais!) por uma negligência sem fim do Governo Federal. E que “conseguiu” (segundo o virologista brasileiro do Imperial College de Londres, Nuno Faria, atingir a famosa imunidade de rebanho – à custa de uma mortalidade que o Brasil jamais esquecerá.


Numa conferência em Guadalajara, quando se falou da Amazônia, tempos atrás, uma jornalista tentou me recriminar por eu nunca haver ido à Manaus. “A senhora já esteve em Helsinki?”, perguntei-lhe, tentando ensinar que as distâncias brasileiras nunca dão uma dimensão absoluta da grandeza relativa do nosso país.


O Brasil não conhece o Brasil. A Europa só conhece pelo que lhe interessa.
Pois é de Manaus que nos chegam crescentes notícias de resistência e organização social. Principalmente em defesa da sua própria vida, o bem mais valioso que todos temos.
Gringo é o nome de um personagem do mencionado livro Manaos, escravizado por um Barão da Borracha. O Brasil é um país descobrindo-se a si mesmo, que enquanto não olhar para as próprias escravidões que persistem, não se quebrarão as correntes que insistem em condenar-se a invisíveis.


Nada melhor que acabar estas linhas com Chico Buarque de Holanda (Bye Bye Brasil):
Bye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day

Flávio Carvalho é sociólogo e escritor, participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya. @1flaviocarvalho. @quixotemacunaima Siga-me, por favor.

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