Por Ermeson Vieira
A militância digital e meus estudos sobre o assunto me fizeram perceber vários erros que cometemos todos os dias quando nos deparamos frente a um celular ou computador com o intuito de fazer uma militância digital. Detalhe, aqui não uso o termo “virtual” porque seria um erro acreditar que há uma diferença com o que muitas vezes chamamos de “real”. A militância virtual ou digital é real, e a “real” muitas vezes não é tão real como imaginamos. É polêmico mas é preciso encarar a militância digital como real pois as coisas mudaram e temos que encarar a nova realidade. De fato o cérebro não faz distinção entre o “real” e o “virtual”. Reagimos aos impulsos e às mensagens.
Entretanto, é importante conhecer certas noções, ideias e conceitos a respeito desse tipo de militância.
- Não acredite em milagres! Seu conteúdo não vai viralizar assim por assim. Você não vai fazer a revolução com uma página no Facebook ou um vídeo no Youtube. Lembre-se que todas as tecnológicas são empresas particulares, capitalistas. Todas tem somente como objetivo a economia da atenção. O objetivo da rede é manter a rede, ou seja, ter gente ao redor dela o maior tempo possível para estar exposta à publicidade. Você vai precisar entender essa lógica e entrar no jogo de manter seu público assim como às redes fazem. o conceito aqui é de criar e manter uma comunidade.
- Produza conteúdo. Muitos de nós não podem resistir a compartilhar uma notícia, mas não podemos reduzir nossa militância a compartilhar notícias dos meios de comunicação tradicionais. Quando nós fazemos isso nós estamos nos deixando levar pela agenda desses meios. Inclusive a extrema direita tem conseguido impor sua própria agenda quando cria “notícias-bomba” para modificar as agenda-setting da imprensa tradicional, como foi o caso de Bolsonaro dizendo asneiras no curralzinho enfrente do Palácio do Alvorada. O que nós temos que fazer é criar nossas próprios blogs, artigos no Facebook, vídeos (vlogs), lives, cursos, filmes etc. Pense no seu conteúdo como um produto que você quer vender. Não adianta só publicar na página. É preciso compartilhar em grupos, emails, etc. Peça ao membros do seu comitê ou coletivo para não esquecer de compartilhar o conteúdo produzido. Se cada um compartilhar em outros grupos serão centenas de pessoas que irão vê-lo.
- Não se iguale: O fascismo se combate com alegria (festa mesmo!), ironia, amor e verdade. O fascismo se alimenta do mal-estar social como dizia Leo Lowenthal em Falsos Profetas Estudos sobre o Autoritarismo. A partir do mal estar o agitador por fazer sua propaganda, tirar das pessoas seu pior, instigar o conservadorismo, o ódio, aprofundar a ignorância. Nosso trabalho é duro pois temos que reverter tudo isso, mas aí é onde está o bonito e o interessante. O que não podemos fazer nunca é entrar no jogo do mal-estar social, da ignorância e do ódio. O ódio é uma cultura, devemos mudá-la e não insistir no “olho por olho”. Já vi grupos de esquerda fazer com a imagem de Bolsonaro a mesma coisa que eles fizeram com a da Dilma.
Em lugar disso cria lives com artistas, discussões de qualidade com especialistas, cursos de formação política, investigue para produzir um material que informe, que diga a verdade que ninguém que ver, use o humor e a ironia, faça as pessoas se solidarizar com o sofrimento dos outros, mostre a realidade de quem não está tendo voz…
4. Não perca seu tempo! Não se detenha polemizando com a direita nas redes. A lógica da rede é criar rede. Cada publicação cria uma pequena rede que o “bendito” algoritmo vê como algo importante e ajuda a difundir. O algoritmo não tem moral ou ética. O único objetivo é a economia da atenção (manter as pessoas enganchadas). Não publique histórias que dão publicidade à direita. Publicidade negativa é publicidade e termina ajudando a passar ideias fascistas que não passariam de outra forma. Muitas vez nós da esquerda ajudamos à direita quando nos indignamos com as asneiras da direita.
5. Use o email! Um grande erro da esquerda com relação à militância virtual é não tomar uma atitude pró-ativa para fazer a informação produzida por ela mesma chegar às pessoas. Isso tem a ver com a ideia mística de que as redes sociais vão se encarregar de entregar a notícia para a gente. E aqui vão uns números. Segundo Cameron Marlow (2009) no Facebook o número médio de amigos que uma pessoa tem é de 120 e o número amigos com os quais mantemos uma comunicação mútua é ainda menor. De 500 amigos, por exemplo, uma pessoa manteria num mês uma comunicação recíproca de no máximo 16 pessoas e no mínimo de 10. Essa limitação é humana, ou seja, o ser humano tem uma limitação comunicativa, encima disso, as redes sociais querem que você pague para promover suas ideias. Uma boa solução para isso é dar a volta por cima usando o email. Criar um boletim eletrônico (newsletter) é uma ideia fantástica! Há vários aplicativos bons para isso.
6. Seja profissional! Faça suas publicações aparecerem bem. Use as medidas corretas para cada rede social. Uma ótima ferramenta par isso é o Canva. Ponha títulos sobre as fotos, use legendas para os vídeos, fotos nos textos, hiperlink seu texto para aumentar a chance dele ser encontrado, use stories no Instagram, no Facebook, use stickers para criar interatividade como as stories, em fim, explore as possibilidade.
7.Comunique-se como sua comunidade. Outra coisa que nós devemos ter em consideração na nossa comunicação é que o velho modelo da comunicação discursiva, de cima para baixo, impositiva está cada vez mais em decadência. Estamos vivendo a sociedade rede onde a comunicação agora é muito mais dialógica. Usa-se o conceito de EMIREC (emissor-receptor) para os usuários das redes. Devemos criar a ideia de diálogo com eles. Devemos ser pessoais quando postamos uma foto ou um artigo, responder as mensagens, aos comentários, curtir as postagens dos nossos seguidores, fazer comentários, convidá-los para para escrever, falar, expressarem-se.
Espero que estas dicas sejam de grande valia para todes!! Usem-nas e se tiverem dúvidas não hesitem em me contactar.
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Ermeson Vieira Gondim é cearense de Quixeramobim, co-fundador do comitê Lula Livre em Bruxelas. É Mestre em Comunicação e Educação na Internet pela UNED (Espanha), Mestre em Cinematologia pela Universidade de Amsterdã, Bacharel em Filme e Vídeo pela Universidade do Leste de Londres. Tem organizado cursos de cinema e realizado filmes além de colaborar com a Fibra.
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Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.