@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima, sociólogo e escritor.
Barcelona, 21.01.2022
- O fascismo, como sistema político, não tem receita de bolo, fórmula mágica ou manual de instruções. Para o fascista, o fascismo é como um sentimento. O interessante é que é mais “fazer” como prática, do que “sentir” ou pensar, refletidamente;
- Por mais que ele pense que não sente, que não é, e se desdiga, o fascismo é um “foi sem querer, querendo”. O principal é que ele faz parte de um modelo de fazer política – mesmo que ele diga que não é “político”, que o torna mais político ainda – que se assemelha a outros ditadores que, em maior ou menor grau, atuaram na história mundial. Um fascista não precisa auto definir-se como fascista para ser fascista. Eu sim, posso definir ele, como eu vejo e sinto. E assim, o permito, por exemplo, que faça o mesmo comigo. Por exemplo, me chamando de comunista, outra complexidade que daria pra outro texto… A diferença é a base do respeito. Chamar alguém de fascista não é uma ofensa. É uma opinião política, bem definida – pelo menos para mim. Por isso quando um fascista me chamar de comunista ele pode pensar, equivocadamente, que está me agredindo;
- O fascismo poderia ser chamado de fascismoS, no plural. Porque nenhum sistema político é homogêneo, fechado, como uma caixinha de ferramentas. Ele se adapta, como tudo em sociedade, às culturas, aos contextos, aos tempos. Como os tais comunismos…
- Há muita literatura sobre os fascismos. Eu, por exemplo, dediquei-me a ler e tentar compreendê-lo. Não porque me agrade, evidentemente. Que eu tenho coisa muito mais agradável para ler, na fila da minha estante de livros. Mas porque é um “assunto” que está matando boa parte do “meu povo”. E isso sim é muito importante para mim. Eu não leio para me exibir. Eu leio porque eu gosto de escrever. E, antes de tudo, eu não vivo sem ler. Além disso, escrever é, para mim, uma das melhores formas de refletir;
- Daí que esta é a minha (!) visão sobre os fascismos e sobre os fascistas. Tem gente, amigos mesmos, que dirão que eu exagero, que estou banalizando o nome da coisa. Tanto quanto eles, eu tenho o legítimo direito de não morder a língua – e não é de hoje – ao dizer que um mentiroso compulsivo, como o Presidente do Brasil, sim, é um grandioso fascista. Não porque eu queira insultar ele com isto. Claro que não! É porque eu analisei o seu comportamento político, antes de tentar caracterizá-lo assim;
- Uma das principais características do fascismo é não saber respeitar o dissenso, as divergências de pensamento. E transformar tudo em discórdia (trazendo sempre ao campo da ofensa agressiva). Eu prefiro chamar de dissidência, do verbo dissentir. (Olha o sentimento, novamente, aí!…). Porque a outra característica principal dos fascismos define bem os bolsonaristas: a violência. Que não é só física, cuidado! Também é plural, como o próprio fascismo;
- Dois anos atrás, por exemplo, eu escrevi um texto parecido com este. E alguns companheiros, ativistas de esquerda, me perguntaram se não era “atrevido demais” chamar o negacionista presidente de fascista. Semana passada, um deles, entre meus bons amigos, reconheceu o seu próprio vacilo. Não devemos vacilar ao chamar os monstros pelos seus nomes. Nomes que para nós estes mesmos monstros representam. Para mim, é MUITO importante (cada vez mais) o que eu sinto. E, por isso, é assim que eu digo: fascistas!
- Atenção. Este debate teórico, complexo, epistemológico, sobre o que é ou não é fascismo, aporta muitas dificuldades para a imensa maioria da população trabalhadora, que não tem dinheiro nem tempo para aprofundar leituras (não porque não querem ou porque não devam ler; mas porque não podem mesmo). Minha opinião, portanto, é que não compliquemos a vida. Por isso, eu que gosto e posso, li. E escrevo, e escrevi. Sobre a desgraça de ter na presidência do meu país um fascista. Não “meramente de extrema direita” (um eufemismo, a meu ver). Eu quero é descomplicar a minha vida. E a sua. Daí que digo e repito: Fora fascistas! Tirem as mãos sujas do meu grande país;
- Esse texto é mais um exercício de liberdade de expressão. E mesmo que os fascistas adorem falar em liberdade e em democracia, quando convém e da forma que lhes convém, não são mais que outros conceitos, diversos e importantes. E com liberdade (ela, novamente) de interpretação. Eu exerço a minha. De expressão. Dela não abro mão. Não abra mão da sua. Mas não confunda alhos com bugalhos. Porque não é de hoje que qualquer fascista se sente no direito de usar expressões que eles dizem que adoram, como Liberdade e Democracia, por exemplo;
- Liberdade, além disso, não é poder dizer tudo o que Eu penso que posso dizer, da forma que Eu mesmo quero dizer. Sabe aquilo, complicado, de que o meu direito termina quando inicia o direito do “outro”? Leiam e releiam o Paradoxo da Intolerância, de Popper. Por isso a tal liberdade não é, por exemplo, enaltecer a figura de Hitler, Mussolini ou Franco. O mesmo direito de poder pensar tudo o que eu quero significa não poder dizer tudo o que eu penso. Muito menos da forma como eu quero. Neste texto, por exemplo, eu não me censurei. Eu refleti bastante sobre o que eu digo. E revisei. E me corrigi. E certamente seguirei cometendo erros. Por ousar dizer o que eu quis, da forma que eu mesmo acho que eu posso. Com consequência e responsabilidade (a opção, cômoda e covarde, ao mesmo tempo é calar-se). Porque ficar escrevendo de graça, voluntariamente, sobre assuntos que podem me trazer mais problemas do que semear a reflexão e o debate? Porque eu gosto. E isto para mim já é muito. E suficiente. Mas vai além: chama-se ativismo, mesmo;
- Pra concluir, preparem-se. Vou logo avisando que nem fui eu que evoluí. Ele, sim. Ou involuiu. Explico: pra mim ele já não é nem um mero fascista. É nazista. Se quer aliviar, eu não, pode até chamá-lo de nazi-fascista. E igual que na análise do seu comportamento fascista, já “colecionei” suficientes elementos pra denominá-lo nazista mesmo, com todas as letras. Pois uma das lições da história é não deixar que avance. E um dos principais elementos da autodefesa (não fomos nós que começamos, é bom que se diga e se lembre) é – insisto! – dar nome aos bois como deve-se dar aos sentimentos. Sempre me lembro, neste ponto, que em Pernambuco, nos anos 90, criamos um comitê antinazista e as pessoas ficavam dizendo que estávamos loucos. Era por hoje. Era por isso. Porque pra muitas coisas, a prevenção ativa é o melhor remédio. Chama-se coerência;
- Portanto, o penúltimo parágrafo é um pedido, para que opinem e compartilhem este texto (por exemplo, desde o meu Facebook @quixotemacunaima). Aumentando o grito do último parágrafo;
- Fora Fascistas! (Porque não adianta tirar o fascista. É preciso enfrentar oS fascistaS. Isso é o que nos define, nos definiu e nos definirá como anti-fascistas. Isso sim, é mais que um sentimento. É práxis: inseparáveis teoria e prática, como se fossem uma coisa só; como deveriam ser – porque são). Chama-se coerência.
Digo e repito. Viva Paulo Freire!
Aquele abraço.
Flávio Carvalho, para a Fibra.