Barcelona, 02.02.2022
Por Patrícia Cassemiro, para o site da FIBRA.
Durante os últimos 5 anos no Brasil vi algo acontecer, que não era fácil de entender. Trabalhei como jornalista em quase 20 campanhas políticas, assisti militâncias de ideologias distintas em acirrados debates, discursos em tribunas e plenos do poder legislativo. Fui responsável pela produção e organização de debates políticos em várias escalas de poder. E apesar de grande experiência com estes embates, nunca tinha visto tantas famílias se intrigarem, colegas de infância deixarem que seus posicionamentos políticos fossem tão fortes a ponto de acabar com toda a memória das suas próprias histórias.
Mesmo além das fronteiras e há mais de uma década vivendo em outro país, nunca deixei de ser brasileira e tenho mãe, irmãos, amigas e uma parte da minha vida no Brasil.
Sempre me orgulhei da diversidade cultural brasileira, consciente que o racismo nunca deixou de existir. Mas, infelizmente com o atual presidente, que prefiro aqui não citar o nome, o que até pouco tempo era vergonhoso para muitos: ser racista, machista e ir por aí criticando abertamente a opção sexual ou a classe de uma pessoa, deixou de ser feio, mal educado para se transformar em discurso. É como se todo tipo de atrocidades e preconceitos passassem a ser institucionalizados.
Para mim é incompreensível como tantos cristãos possam até defender o assassinato de outro ser humano, repetindo a frase: “Bandido bom é bandido morto.”. Ora, é bem complicado entender tanto disparate.
É bom lembrar, inclusive, de como todo o marketing, e a força do mesmo, é capaz de transformar uma pessoa acuada – e às vezes sem esperança em sua própria vida, em um nazista. Isso talvez explique porque tantos brasileiros hoje se orgulham de se achar melhor que uma mulher, gay, negro ou pobre.
Convido aqui, aos que acreditam na democracia, para tentar conversar, ninguém disse que o Brasil é um país seguro, mas repreender e atirar a pedra, ou até matar o diferente, só aumenta ainda mais a trincheira da intolerância e declara uma guerra entre nós.
O Brasil tem cientistas louváveis, não merecem que seus estudos sejam tratados como lixo, porque o presidente acha que o vírus – que parou o mundo e matou brasileiros, não é nada mais que uma gripezinha!
Vamos humildemente conversar, ponderar tudo, lembrar que se você votou nele, pode errar, afinal errar é humano, mas permanecer no erro não é só preguiça de pensar… é no mínimo burrice!
Vamos ponderar, seu voto pode salvar vidas. Vamos conversar honestamente sem querer ter razão, mas avaliando friamente os seus últimos três anos no Brasil e toda a incerteza e tensão que as práticas desse atual governo nos tem causado.
Vamos conversar?!!!
Patrícia Cassemiro é jornalista, integrante do Coletivo FIBRA Barcelona, Mulheres Brasileiras Contra o Facismo (MUCF) e Brasil Ativo Press.
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Parabéns pela estreia Paty! bjs.
Patrícia
Parabéns pela excelente matéria e pela capacidade de sintetizar com tanta profundidade a realidade do nosso país.
Um convite ao diálogo é sempre oportuno e necessário.