8 motivos pelos quais todo homem poderia calar no 8 de março

@1flaviocarvalho. Sociólogo e Escritor. @quixotemacunaima.

Barcelona, 7 de março de 2022.

“Se te agarro com outro te mato,
te mando algumas flores e depois escapo”
(Sidney Magal).

“Every breath you take”
(Sting, The Police).

“Hoy voy a asesinarte, nena.
Te quiero, pero no aguanto más.
No me volverás a engañar”
(Siniestro Total, grupo de rock espanhol).

  1. Fuja de Protagonismos. Saia da frente (delas). Eu poderia acrescentar essa frase: “pelo menos no 8 de março”. Mas não é verdade. Assim como o Dia da Mulher não deveria somente um dia, o nosso exercício de desprendimento de privilégios também faz parte de uma longa caminhada. Porém, toda longa caminhada só começa com… Um primeiro passo. Aproveite este dia. E todos os outros.
  2. Não se escore, não se esconda, não se autodefenda com aquela estória de que a culpa não é sua e sim do sistema patriarcal, herdado dos seus antepassados. Não se trata de culpa e sim de responsabilidade. E esta sim é sua, inalienável.
  3. Resista. Até no 8 de Março, você que tanto já falou e até acostumou-se a ser bem escutado, precisa lembrar da imensa quantidade de mulheres que nunca desfrutou desse privilégio. Pode ser que você nem tenha percebido que o tinha, como a maioria dos privilégios, mas tem sim. Eu lhe garanto. Porque eu também fui educado como “homem”. E eu já percebi sim que o tenho. E em todo esse texto, quando eu falo de você, estou me olhando no espelho. Eu estou (também) escreVIVendo pra mim;
  4. Uma coisa é perceber o que se faz (ou fez de errado), e a outra é fazer algo para mudar, mudando-se. A acomodação o beneficia. Se todo o mundo ficasse parado e não fizesse absolutamente nada, você sairia adiante, sendo beneficiado. A inércia é amiga do seu privilégio. E o seu privilégio só existe porque foi criado para prejudicar (a elas). Pra cada ganho seu, há pelo menos uma mulher perdendo algo. O nome disso é injustiça;
  5. Vai doer, eu sei. Aliás, se não houver essa “dorzinha” (no seu ego), comparada com a dor das milhares de bruxas queimadas na fogueira da História, não haverá cura efetiva. Ninguém aqui está falando de masoquismo. Mas de que remédio que cura mesmo, é aquele que amarga. Porque senão você vai continuar tomando xarope docinho que (é placebo) que não serve pra nada. Somente pra lhe auto enganar. O mundo está cheio de docinho de auto enganação. E esse docinho vicia. Cuidado;
  6. Chama-se hipocrisia, a danada da palavra. A que a gente é perfeitamente capaz de ficar mentindo aquela mesma mentira, durante anos, pra gente mesmo. É tão sutil que se esconde nas suas maiores intimidades. Ninguém mais que você mesmo para saber onde elas se escondem, dentro, sim, de si. E extirpar;
  7. Sabe homem-feminista? Dá mais prestígio social ainda. Cai bem. E até dá pra seduzir, paquerar, chamar atenção no Instagram. Mas deixa eu te contar uma coisa: não existe. O verdadeiro homem-feminista é aquele que jamais se define assim. Porque o que acha que já conseguiu é o que tem exatamente a maior capacidade de enganar a si mesmo. Tenha certeza de que a melhor coisa é desconfiar de si mesmo. É o que ajuda a querer ser melhor. Porque ser melhor é o que você quer. Né? A não ser que você esteja querendo mentir pra mim. Ou pior. Pra si mesmo;
  8. Tá me vendo aqui escrevendo sobre o 8 de março? Estou usando do meu privilégio pra falar com você (porque a luta contra os machismos não deveria ser uma luta somente das mulheres, e sim, principalmente dos machistas, assumidos ou não) num dia que eu mesmo deveria estar calado. E por isso mesmo, eu calo.

Aquele abraço.

P.s. – Mas se você escutou tá escutado! Já não vai dar pra negar.


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Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.

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