“A grande obra é cuidar das pessoas.”
(lema da última gestão petista na Prefeitura do Recife,
onde eu trabalhei, onde eu nasci).
De Flávio Carvalho, para o site da FIBRA.
Barcelona, 10 de fevereiro de 2023.
@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima, sociólogo e escritor.
“Querido, te devo desculpas… Durante incerto tempo não consegui não desconfiar de ti. Pensei que já não eras o mesmo. Claro que já não somos os mesmos, nem tu nem eu, com o passar dos anos. Até andei escutando coisas, muita gente me explicando bobagens sobre você. Falavam em renúncias. Confesso que até os da Globo ouvi. Até acho incrível como eu sempre te reconheci, tentei não dar ouvido aos indícios de que desistirias de tudo. Sofri muito. Pensei que era o fim. O teu, o nosso fim. Mas, então, daí das sombras, as que nos dão a vida, renascestes em luz. Em nós. Em Luiz. (Flávio Carvalho).”
Coleciono fakes de jornal que diziam que o maior partido ocidental (sim, em quantidade e qualidade, não tem igual), estava em vias de extinção, após sofrer o maior massacre público que qualquer organização política já havia sofrido. “O demônio e o inferno” se confundiam, Lula e PT.
Tenho uma sobrinha que teve o muro da sua casa derrubado por uma vizinha raivosa, colérica, denunciada à polícia local onde morava. Sofremos juntos. Assustada, minha sobrinha relatava que um dos insanos motivos era político. Conheço muita gente que passou anos com suas roupas vermelhas guardadas, no Brasil, tentando esconder. Bruxas caçadas. Todas as estrelas pareciam estar sendo perseguidas.
Quem, no silêncio da noite, não passou horas com o travesseiro próprio, perguntando-se se haveria algo de verdadeiro, algum deslize – por menor que seja – na operação vazajato, do juizinho de merda mais desgraçado que o Brasil já viu? Em resumo, muitos somos os que em menor ou maior grau, quase desistimos, cansamos muito, nos desgastamos, entramos no falso dilema de tratar culpas como responsabilidades; enfim, quantos de nós não devemos um bom pedido de desculpas, sincero – não a uma pessoa, mas a tudo que um partido representa? Este partido, é – para mim – o PT.
Eu já apresentei minhas desculpas públicas, várias vezes, ao tal partido. Como eu quero o melhor para ele, jamais perdi a oportunidade de – junto com esse pedido – tratar de uma palavrinha defenestrada, quase amaldiçoada (como o próprio partido): autocrítica. Sabes porquê? Porque essa palavrinha mágica, a autocrítica, só pode ser usada por quem se autocritica, é de dupla via, um vai e vem, impulso interno e externo ao mesmo tempo. Quem se autocritica mais se legitima para criticar.
E hoje é dia de festejar os seus, mais nossos, 43 anos. Não existe organização política como uma coisa somente externa, sem assumir que o vetor principal desta política é tão somente você mesmo.
Eu, adolescente, estava a ponto de filiar-me ao Partido Comunista Brasileiro, o PCB, somente por causa de uma menina que eu paquerava. Veio a eleição de Collor e quando todo mundo chorava a nossa derrota eu pensei que era a melhor hora de me filiar ao PT. Fiz! Quando Lula veio a desenvolver o que ele chamava de Governo Paralelo, numa Caravana da Cidadania, na cidade de Garanhuns, com o aval de luxo do Eduardo Suplicy, eu finalmente me filiei. Muita história me vem mais ao coração do que à mente. Movimento Sindical, Movimento Estudantil, Fora Collor, fundamos o primeiro comitê antinazista de Pernambuco (sim!), quando todo mundo dizia que era loucura nossa, isso de nazismo em pleno Brasil. Então, passados os anos eis que o mito fascista …
Quando Lula se elegeu, pela primeira vez, enfim, eu migrei. Peguei o avião pra Barcelona.
Deu-me posse, Lula, como Vice-Presidente, eu, do Conselho de Representante dos Brasileiros no Exterior – CRBE. Veio à Barcelona e tive oportunidade de dialogar com ele, como nunca antes, ao receber, ele, Lula, o Prêmio Internacional Catalunha. Convidou-me ao Palácio do Planalto, seu governo me deu uma Ordem do Rio Branco. Pouca gente sabe o quanto eu, um pouco doente, trabalhei sofrendo, nestas últimas e históricas eleições. Nao é falso personalismo, nem somente individualismo metodológico. Para mim principalmente, falar do PT, no seu aniversário, é falar de mim, e de como essa relação mudou minha vida, tornando-me assim, bom ou ruim. Eu já não existo sem emoção.
Política é vida. Bem ou mal, gostes ou não gostes, eu sou assim, eu sou o PT, o Brasil, em mim.
Parece bajulador, né? Agora vem o melhor.
Palavras de Lula (que eu garanto e assino): o PT não precisa de idolatria, de cegueira política, de devoção pentecostal, de dogma, de bajulação. O PT deve ser o partido da consciência crítica. É o partido de Paulo Freire, homem que se resume em coerência: fazer em tudo na vida, o que sentes e pensas, sem distinção; saber lidar com as próprias contradições. Pisar firme o caminho da ética.
Hoje, morando em Barcelona, me orgulho de poder escrever um texto sobre O Partido, sem ser partidista. Não há, no Brasil, partido com mais Núcleos espalhados por todo o mundo. O de Barcelona, é como aquele velho romance: seduz, conquista, desafia, anima, desanima, reanima, chuta a bola para cima. Dizia um velho amigo: cada aniversário de organização coletiva é para ser muito bem comemorado, para não esquecer o trabalho que deu erguer-se e reerguer-se a cada dia.
Parabéns ao PT. Parabéns para mim. Parabéns para você.
Uma cidade parece pequena se comparada com um país. Mas é na minha, na sua cidade, que se começa a ser feliz… Se a vida ensina, eu sou aprendiz. Chegou a hora de ser feliz!
Para Flávia, queridíssima companheira – que mais me motiva, atualmente, o quente sangue petista.
Aquele abraço. Muitas felicidades.
Sociólogo, escritor, professor de teatro. Foi Coordenador de Formação do Orçamento Participativo de Olinda. Trabalhou para a CUT, para a CONTAG, para a FAO, para a UNESCO, para o MinC, para o MST…
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Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.