Amsterdam, 15 de fevereiro de 2025.
Por Luíza Monteiro, para o site da Fibra.
@luiza.monteiro

Assim como no conto de Andersen, a criança é aquela que desvela a realidade, dizendo o que todos percebem e se calam. No conto um menino diz no meio da multidão: “- O rei está nu!” e, de repente, o riso estala em todos os lados porque o rei, de fato, está nu. O lindo traje, com tecido só possível de ser visto pelas pessoas inteligentes levavam a mentiras bajuladoras, quando na verdade o traje não existia. Era um golpe de dois alfaiates trapaceiros, que enganaram ao rei, seus conselheiros e súditos que não queriam dar atestado de burrice.
Assim há poucos dias, uma criança revela ao mundo que o presidente Trump não é o presidente, shuss, que se cale, pois há algo que, sim, tem mais poder que ele, no caso, seu pai.
Entre clicks e comunicações que fazem o desmantelamento do edifício em que a história construiu o Estado americano, um empresário com lábios enrijecidos num bico autoritário, vê um outro empresário ocupar seu cargo, sem que o povo americano tenha dado sequer um voto ao ocupante, de fato, do poder. Sem o traje formal e sem o rito presidencial o outro, deveras, ordena. E seu filho, engraçadinho como toda criança, é o portador da nova.
Estamos todos estarrecidos. Não só com a verdade revelada, mas com a informalidade entronizada. Seria cômico se não compartilhássemos o mesmo planeta, mesmo que em países diferentes. Seria bizarro apenas, se não sofrêssemos o impacto do que ali acontece. E, convenhamos, não há como escapar da má escolha do povo americano.
A pergunta que não quer calar: caberão tantos egos no Salão Oval da Presidência da República dos EUA? E o que sairá desta fórmula de poder, que a rigor não é nova, pois sempre as empresas americanas e os doadores de campanhas eram a fonte do poderio estadunidense. Só que agora, não há disfarces, não há discursos, não há máscaras, nem trajes para inteligentes. A nudez está a todos revelada…. e é bem feia.
Nota: Os textos, citações e opiniões deste texto podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.