@1flaviocarvalho, sociólogo e escritor. @quixotemacunaima.
Barcelona, 2 de março de 2022.
“Tudo parece impossível até que se faz.”
(Mandela).
Só eu sei o quanto me custou resistir a ler qualquer notícia sobre a Guerra na Ucrânia, ultimamente.
Duas semanas fugindo dos jornais é muito pra mim e pro meu exercício de não deixar me influenciar por nada que não seja o essencial: condenar com veemência e sem isenção, qualquer tentativa de justificar qualquer bombardeio, assassinato ou terrorismo em nome de uma suposta autodefesa política.
Depois da complexidade de lidar com amigos de esquerda que (não se dizem) são negacionistas – o mundo inteiro dividiu-se e começou a revelar sentimentos antes escondidos no âmago das mais recônditas hipocrisias. Tentei até falar mais bonito ao denomina-los Hipócritas. É o que são.
Na verdade, tudo começou com a comemoradíssima posse de Joe Biden, disfarçada de vitória contra o Trumpismo. Amigos esquerdistas quase chorando na posse da Presidência do Império, emocionadíssimos, e eu me perguntando o porquê.
Logo veio o golpe de Estado no Afeganistão. E comecei a escutar o “contra os Estados Unidos, tudo!”.
Tudo?!
Depois veio a morte do guru do Bolsonazismo, Olavo de Carvalho, dividindo novamente as mentes e corações mais vermelhos. Merece-se comemorar uma morte de quem tanto a morte incentivou?
Comecei a gostar que os verdadeiros debates filosóficos impregnassem as reflexões políticas.
Nunca saiu de moda o cerne da questão histórica: os fins justificam os meios? Afinal é disso que estamos falando, desde tempos imemoráveis. Pare pra pensar, por favor.
Até tu, Brutus?
Então o país da Revolução mais famosa (pra mim, depois da Cubana) decidiu sair matando, invadindo, jogando bomba com base no mais hipócrita dos argumentos: se os Estados Unidos passaram a vida inteira fazendo isso com Mimimi de Vitimismo, porque eu, Putin, o mais novo Czar da Rússia não posso fazer o mesmo?
Quantas crianças não começaram falsas briguinhas por aquele argumento único: foi você que começou? A questão filosófica principal vem em seguida: um erro justifica o outro? Desde quando, rapaz?
Não faltou esquerdista aplaudindo bomba. Eu parei pra pensar se eu estava ficando louco ou eram eles. Deixei de ler análise política, muito menos maniqueísta – a palavrinha da moda, ultimamente.
A vida não é complicada. Somos nós que a complicamos, sem querer querendo. Bomba é bomba. Guerra é guerra. Paz é paz. Vida é vida. Morte é morte. E uma lista interminável de evidências. Não comecemos a botar chifre em cabeça de cavalo, por favor. Básico do básico, voltemos ao essencial.
Como não há mal que não venha para o bem (“o que vem, convém…”), tudo na vida é oportunidade. Sofrimento é sofrimento. Empatia é empatia. Fujamos de comparar desesperos com análise política desnecessária. Analisemos o analisável. Respeitemos o que deve, antes de tudo, ser respeitado. A guerra cria monstros. Mas na maioria das vezes somente revela, os monstros que não escondemos em baixo da cama – e sim dentro de nós mesmos.
Não existe e jamais existirá justificativa pra nenhum tipo de violência. Significaria o fracasso da humanidade: respeito, confiança e diálogo (a base de qualquer relação sadia). Não é pacifismo estéril. É exercício desmesurado de sensatez. É aposta num modelo de cosmovisão. É queiras o que quiseres.
O oposto a isso é o verdadeiro mal da humanidade. É Putin dando porrada na ucraniana (como tanto já fez contra todos os direitos humanos; não somente ele, que não o escondam debaixo de um manto de esquerdismo, como tentaram fazer com uns quantos ditadores do mundo) e alegando o que muita mulher maltratada já foi obrigada a escutar: “Tá vendo o que você me obriga a fazer contigo?”.
Proletariado? Sim! Com todas as letras. Ditadura do Proletariado? Em pleno século XXI? Ditadura nenhuma, nem aqui nem na China! Quem cresce pra baixo é rabo de cavalo. Chame-me, irado, de aliado de nazista. Mas tome muito cuidado: o bolsonarista também vai te aplaudir… E aqui a porca torce o rabo.
Contra TODA e QUALQUER guerra, tenhamos coragem de olharmo-nos na cara e denunciar as nossas próprias e piores hipocrisias.
Que mundo, afinal, você quer? Estamos mesmo falando o mesmo idioma?
Que sirva pra algo. Denunciar a matriz energética que está condenando o mundo. Denunciar o capitalismo covarde que lucra com as guerras e esfrega as mãos para reconstruir o que ele mesmo ajuda a destruir. Denunciar o falso maniqueísmo da nova geopolítica. Revisar nossos próprios conceitos sobre as velhas ideologias, ajudando a caminhar pra frente (pra frente é que se anda). Não somente condenar, mas somar forças – de verdade! – contra os neonazismos.
E aprender, de uma vez por todas, que esse mundo já está em guerra faz tempo. O problema é que só morrem os de sempre. E os grandes jornais decidem o que querem impor às tuas emoções.
Se guerra fosse coisa boa, quem as determina, covardemente, nos escritórios políticos, ia lá pra frente arriscar-se ao primeiro tiro – em vez de enviar esses jovens filhos das mães.
Paz é o melhor ato revolucionário. E não confunda com a covardia de Putin, se queres continuar somando comigo.
Aquele abraço.
Acesse as mídias de Flávio Carvalho:
Twitter e Instagram: @1flaviocarvalho
Facebook: @quixotemacunaima
Nota: Os textos, citações, e opiniões são fornecidos pelo autor, sendo de sua exclusiva responsabilidade, e podem não expressar – no todo ou em parte, a opinião dos Coletivos da Fibra.
Parabéns, Flávio!
“Nem Putin, nem Zelensky, nem Macron, nem Duda, nem Scholz…” foi minha resposta a um Comentário. Prá que! Um Tsunami caiu sobre minha cabeça. Tentei rebater dizendo: “existem dois lados. É preciso ouvir os dois lados. São questões mal resolvidas que já somam anos. Se elas não forem resolvidas, a coisa vai piorar.” Sem chance! A esquerda agora não me suporta e afirmam que eu apoio Putin. Prá falar a verdade, esse joguinho onde eu na plateia tenho de tomar partido, já passou dos limites. Putin não é santo mas o chamado mundo ocidental também não é!